Eu e a Olivetti

Foto: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/b/bd/Olivetti-Valentine.jpg

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OLHEI para ela por alguns instantes. Seu layout dedurava sua idade. Ela era velha... bem mais do que eu. Vinha de tempos onde não se podia errar. O mundo é mais flexível atualmente (pelo menos para as letras).
   O teclado, endurecido pelo tempo, possuía o mesmo arranjo do que os atuais. Claro que não tinha teclas como o F5( que tanto preciso utilizar quando estou na minha banda [ilusoriamente] larga). 
   Aquela bela Olivetti já não reluzia como antigamente. Seu papel se foi e levou junto consigo os mais diversos ofícios. Nas redações dos jornais, o copidesque já não tinha mais onde ficar. O corretor do Word já fazia seu trabalho. Além disso, como era simples corrigir erros de digitação no computador. Os cursos de datilografia foram substituídos pelos cursos de informática.
   Havia, entretanto, uma certa sofisticação naquele equipamento. Com ele, o escritor se distraía menos. Não tinha sua mente interrompida pelas notificações das redes sociais. 
   Além disso, a maioria delas funcionavam sem eletricidade. Um black out não era desculpa para uma pausa. Outra vantagem era que não era necessário utilizar impressora. Você "imprimia" as palavras instantaneamente. Bastava ter a fita com tinta.
   Nunca utilizei máquinas de datilografar, mas elas têm o seu glamour. Associamos a imagem delas com a de escritores, jornalistas, intelectuais, advogados. Ela tinha o papel de "imprimir" os pensamentos de grandes mentes.
   A Olivetti não era mim, mas queria que fosse. Não para digitar um texto e sim como memória. Não minha, claro. Lembranças que gostaria de ter tido. Histórias que devem ter sido contadas por meio daquelas engrenagens de ferro. Saudades que não são minhas, mas das quais eu me apropriaria.


De Alexandre Valério Ferreira






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