Boca de Sinuca


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EU estava em boca de sinuca. Parecia não haver saída. Nenhuma palavra servia. Estava condenado. Tentei encontrar um caminho, mas já era tarde demais. As palavras me faltavam à língua. Uma forte enxaqueca começava a pairar sobre meu cérebro.
   Ela me perguntou se era bonita. Como responder? Se eu dissesse que sim, estaria mentindo, pois não a considerava atraente do meu ponto de vista. E no que se refere aos padrões sociais existentes, não podia dizer também que ela fosse. 
   Porém, estava incerto quanto ao "não". Afinal, beleza é algo relativo. Muitas vezes considerei bonito alguém que muitos achavam feia e achei feia alguém que muitos achavam bonita. Não é racional estabelecer um parâmetro para esse quesito.
   Mas, e se eu dissesse que não? Talvez ela me elogiasse pela sinceridade. Porém, querendo ou não, ficaria magoada, pois se sentiria inferior (ou não). Talvez desenvolvesse desprezo por mim. Questionaria meu caráter e poderia me julgar superficial. Daria um sermão sobre padrões sociais de beleza estabelecidos pela indústria da moda e do entretenimento. 
   Para tornar o caso mais complexo, não estou falando de minha namorada ou esposa. Mas, de uma pessoa que considero amiga. Talvez essa situação seja ainda mais difícil. Por medo de acabarmos com a amizade, tendemos a mentir ou contar meias-verdades. Além do mais, ficamos com o pé atrás, pois, suspeitamos que a pessoa esteja interessada pela gente. Ficamos temerosos de machucá-la.
   É uma boca de caçapa. Qualquer resposta que dermos vai nos levar a um fim trágico. O melhor é tentar evitar situações desse tipo. Será que dei margem para isso? Estou repassando os conceitos de beleza impostos pela sociedade? Preciso melhorar a forma com que lido com as pessoas? Queria ter refletido sobre isso antes. Agora, é tchau...



De Alexandre Valério Ferreira


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