Tempo Perdido


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Baseado na canção "Tempo Perdido", Legião Urbana.


TODOS os dias, quando acordo, não tenho mais o tempo que passou. Se pensar que é um dia a menos na vida, fico deprimido. Mas tenho muito tempo. Essa é a verdade. Colocar na mente que não tenho tempo é o mesmo que fazer com que não haja mesmo. 
  Sim, nós temos todo o tempo do mundo. Depende muito de como eu uso ele. Para alguém que não enxerga que a vida é além do que se vê, o tempo parece tão curto, tão escasso. Nunca tem tempo para nada: família, saúde, mente, espiritualidade, viagens. Viver assim é o mesmo que não viver.
   Todos os dias, antes dormir, lembro e esqueço como foi o dia. É melhor viver essa dicotomia do que sonhar na amargura de noites mal dormidas. Entregar-me ao rancor, à tristeza e ao desânimo é viver no passado. Devo aprender com os erros, mas não devo olhar apenas para trás. Olharei para o futuro. Sempre em frente
   Não temos tempo a perder. Então, porque ficar remoendo aquilo que não pode mais ser mudado? Qual o objetivo de reviver dores mortas? O tempo é curto. Desperdiçá-lo é uma grande tolice. Gastarei com o que vale a pena.
   Falando sobre a questão do tempo, quão valioso eu o considero? Para muitos, não vale mais do que as suadas horas-extras no trabalho. Passivamente, concordamos com o adestramento social que nos ensina a procurar constantemente sucesso, prestígio, riqueza, pois eles supostamente provam que usamos bem nossas vidas. Será mesmo que as coisas assim funcionam? 
   Nosso suor sagrado é bem mais belo que esse sangue armado. Não me iludam com o sucesso que nos é oferecido. Afinal, que é sucesso? Quem o definiu? Quem disse que esses que o vangloriam estão corretos? São realmente felizes? Ou é tudo encenação? 
  O mundo está tão complexo e tão sério e selvagem. Sim, selvagem. Essa palavra define a sociedade em que vivemos. Somos treinados a viver tentando pisar nos outros. Ser melhor é o nosso objetivo final. Estar no topo é o nosso desejo supremo. Tantos nossos que não são nossos. Aceito, por conveniência, a ideologia dos outros como se fosse minha própria natureza. Eu me aproprio desses conceitos e, por consequência, sou apropriado por um mundo de fachadas.
   Veja o sol dessa manhã tão cinza. Parece, então, que tudo está perdido... Não haverá esperança? Existe sim! A tempestade que chega é da cor dos teus olhos: castanhos. Eles brilham como o sol, clareando meu caminho. Suas pupilas me tiram das trevas dessa angústia. Fazem-me perceber que, por mais escuro que sejam as tempestades, elas sempre acabam.
   Sinto o vento frio desses dias. Então, me abraça forte. Me diz mais uma vez que já estamos distantes de tudo. Quero esperança. Quero acreditar. Quero lembrar de não esquecer. Por favor, me fale quando tudo de ruim acabar. Por favor, me faça acreditar novamente em dias melhores.
  Temos o nosso próprio tempo e não é como o do senso comum. Construímos o nosso ser a cada dia. É como uma casa feita tijolo por tijolo. Etapas que necessitam de tempo, o nosso tempo. Temos o nosso próprio tempo
  E se, de fato, temos o nosso próprio tempo, por que tanta pressa? Para quê essa correria? Gastamos todo o tempo tentando poupar tempo como se agir assim tivesse alguma lógica. Mas, não tem. Não quero o tempo deles, eu quero o nosso: o tempo do amor. O amor é atemporal.
   Não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas agora! É para garantir. Quero acreditar em você, mas ainda acho difícil andar no escuro sem me assustar. Ainda não confio em mim mesmo. 
   Eu sei, eu sei. Complico o que é simples e simplifico o que é complexo. O que foi escondido é o que se escondeu. E o que foi prometido, ninguém prometeu. É tão claro! É tão simples! Mas, acho difícil deixar o medo e cair de cabeça na realidade. Minha mente pede para fugir. Meus olhos insistem em temer o escuro. Minhas pernas rogam para desabar meu corpo.
  Se há um mundo querendo me fazer desistir acreditar que nem estou louco e nem foi tempo perdido, há olhos castanhos me fazendo acreditar que a realidade é mais do que apenas nascer, trabalhar e morrer. Não conseguirão me convencer mais dessas mentiras. Não desperdiçarei minha vida. Somos tão jovens. Tão jovens!


De Alexandre Valério Ferreira




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