Diário do Paraíso


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"IT'S just another day with you and me in paradise", cantou Phil Collins. Quando a ouvi da primeira vez, imaginei que era uma bela composição sobre as alegrias da vida, mas eu estava enganado. Ele usou de ironia e fez referência à vida difícil dos menos favorecidos. Ao se expressar dessa forma, vai de frente ao mundo fantasioso que a grande mídia tanto procurava transmitir.
   Um pedido de socorro de uma mulher. Ela clama por ajuda. Precisa de apoio. O homem de terno segue seu caminho na rua. Finge que nada aconteceu. Ela não existe. Há uma capa invisível que a esconde do resto do mundo. Por que se preocupar com ela? É só mais uma entre tantas. Cada um com seus problemas, não é verdade? É apenas mais um dia no paraíso... no paraíso de quem?
   Ouvir essa música me faz querer chorar. Talvez seja por reconhecer a minha limitada capacidade de ajudar aos que precisam. Eu me sinto impotente diante da lógica mercantil em que vivemos. Aceitamos que a miséria é um efeito colateral aceitável e necessário. Aprendemos a justificar tudo por meio de rótulos. Dizemos que estão na rua porque são usuários de drogas, alcoólatras ou loucos. 
   Sabemos que nem sempre é por essas razões. Mas, precisamos aceitar essas justificativas para a sensação de culpa ser menor. Também, sentimo-nos maus, pois, inconscientemente, sabemos que o mesmo pode ocorrer conosco. Podemos ser o próximo alvo. 
    Minha mãe sempre diz que o mundo atual já é o paraíso dos ricos. Eles podem viajar para onde querem. Geralmente, não sofrem muito com as crises financeiras. Tem mais oportunidades e visitam os mais belos lugares da Terra.
   Não quero fazer crítica a indivíduos, mas ressaltar como as coisas realmente são. Devemos ser gratos pelo que temos e não menosprezar quem nada possui. Não é ter pena ou tratar os menos favorecidos como inocentes, incapacitados ou fracos, mas tratar a todos os humanos como deveriam ser tratados: com dignidade.



De Alexandre Valério Ferreira




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