Nostalgia

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DIZEM que o passado não existe. Ele é apenas uma narrativa que nós fazemos. E, como tal, sofre distorções de nossa subjetividade e de nossas experiências. Para quem gosta de física, sabe que o passado, o presente e o futuro são expressões que utilizamos para falar de eventos que coexistem ao mesmo "tempo". Tudo depende de nosso referencial. 
   Mas, independente do que entendamos ou acreditemos, o passado está presente na vida de muitos de nós. Em alguns casos, até demais. Talvez um dos maiores reflexos da atualidade dele sejam aqueles momentos de nostalgia, quando relembramos de forma saudosista de tempos idos. Quem nunca passou por isso?
   O passado quase sempre parece um momento melhor do que o presente. Mesmo quando não o é. Como assim? Costumamos narrar o passado de forma incompleta. Esquecemos de alguns detalhes relevantes, minimizamos problemas e amplificamos os bons momentos. Em outras palavras, ele é maquiado, rebocado, repintado.
   Quantas vezes escutamos dos mais idosos referências maravilhosas sobre os tempos de outrora? Parece que tudo era perfeito e reinava tudo de bom. Talvez, em alguns aspectos, as coisas fossem realmente melhores do que hoje. Porém, é fácil notar que há enfeites e distorções, promovendo uma ideia de que o agora é uma desgraça e uma decadência dos bons tempos idos.
   Por exemplo, alguns gostam de lembrar saudosamente das décadas de 70 e 80. Eles comentam que havia mais respeito e pouco se falava de problemas. Mas, talvez esqueçam de grandes dificuldades, como inflação, torturas, censura das informações, racismo e machismo. É provável que nem se apercebam que agora é mais fácil de se comunicar com os que vivem longe e que não sofrem mais em saber onde estão os familiares. Naquela época, dependia-se muito de cartas, que eram muito demoradas.
   Outro exemplo de nostalgia distorcida é quando falamos de nossa infância. É comum dizermos que era uma maravilha e que não existiam problemas como atualmente. Esquecemos, porém, que não enxergávamos os desafios sociais graves porque nossos pais nos resguardavam. Eram eles que "pagavam o pato", por assim dizer. Eles trabalhavam duro e suportavam muitas humilhações a fim de nos preservar de muitos constrangimentos. 
   Além disso, existem pesquisas que comprovam que nossas lembranças anteriores aos 7 anos são irreais. Isso porque misturamos memórias com sonhos que tivemos. Vale ressaltar também que, às vezes, esquecemos de detalhes que não gostaríamos de relembrar. 
   A questão da nostalgia é que ela pode ser uma ilusão da mente. Talvez estejamos insatisfeitos com algumas situações e recorremos a um passado que não existiu para acreditarmos que já estivemos em tempos melhores. 
   No fundo, não podemos cair no erro de ir aos extremos. Antigamente, haviam situações sociais, ambientais e políticas que eram melhores do que atualmente. Mas, também existiam casos que era muito pior do que em nossos dias. Houve progresso em diversas áreas. E retrocessos também.
   Portanto, é importante ter bom senso ao narrarmos nosso passado. Sejamos realista: as coisas não eram tão boas como imaginamos. Também não era o fim do mundo. O mesmo se pode dizer do agora. Vivemos em tempos difíceis, porém, presenciamos oportunidades que nunca existiram antes. Assim, respeite o seu passado; não calunie o seu presente e não comprometa o seu futuro.



De Alexandre Valério Ferreira



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