Será que Todo Mundo Odeia o Chris?

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QUANDO assisti pela primeira vez, admito que eu não gostei. Seria um preconceito internalizado? Não sei. Porém, com o tempo, o seriado se tornou um dos meus favoritos. Aliás, ganhou uma enorme popularidade em todo o Brasil. Por que "Todo Mundo Odeia o Chris" conseguiu tanto sucesso?
   Uma certeza nós temos: o Chris poderia facilmente ser chamado de um azarado. Parecia que tudo na vida dele ocorria às avessas. Mesmo nos momentos familiares mais tradicionais, o resultado era quase sempre inesperado e desastroso. Ainda assim, ele prosseguia. Não sei se com muita alegria, mas prosseguia.
   Talvez seja esse um dos fatores que tenha conquistado o público. A identificação com as tragédias sociais pelas quais ele passa atrai muitos fãs. Quantos de nós sofremos bullying nas escolas? Ou quantas vezes percebemos o racismo de forma indireta, o qual foi ironicamente retratado no seriado? Quem também não passou por desilusões amorosas, valentões e dificuldade financeira? A grande maioria de nós.
   O seriado mostrou uma visão bem diferente do que seria a vida nos EUA. Em contraste com a maioria dos filmes norte-americanos, nós descobrimos um país muito similar ao nosso. O vício pelas novelas, a vida nas favelas, as dificuldades financeiras, o comportamento dos pais e dos vizinhos, entre tantos outros, criaram uma forte identificação com a população brasileira. De repente, os americanos não eram muito "superiores" ao nosso povo, como alguns que sofrem a síndrome do vira-lata gostam tanto de vociferar.
   Com tantas similaridades e com a presença constante do humor sarcástico, rapidamente diversos memes foram criados. Expressões do seriado se tornaram parte do nosso vocabulário. É comum fazermos referências a algum episódio ou personagem.
Quantos de nós também não vimos na Rochelle o reflexo de nossas mães? Era assustador e, ao mesmo tempo, cômico. Não é que é verdade mesmo que todas as mães são sempre iguais? E o Julius? Pai suvino e econômico ao extremo. As suas hipérboles davam o ar da graça. Será que era verdade? Para muitos de nós, sim.
   No programa do Chris, haviam discussões sobre questões profundas. Para tratar delas, nada melhor que o exagero e a ironia. Temas como racismo, machismo, homofobia, violência, criminalidade, gravidez indesejada, venda de drogas e de produtos roubados tiveram espaço no enredo do protagonista.
   E quantas lições de moral ele mostra? Quem não ficou com pena/felicidade do Chris, após ele perder a chance com a famigerada "Garibalda"? As palavras do Doc sobre o porquê de muitas garotas se interessavam mais por homens ditos "sem-vergonhas" e "vagabundos" parecia ter muito sentido. 
   Uma das teorias apresentadas que mais achei interessante ocorreu no episódio "Todo mundo odeia o Caruso". O descendente nipônico Bernard Yao derrota o valentão da escola, deixando-o totalmente esmorecido. Com a ausência de um "chefão", a escola entra no caos e Chris sofre maus tratos dos mais diversos alunos. Conversando com o Greg, ele comenta que é necessária a existência de um valentão ou vilão para equilibrar as coisas. O Caruso é um mal necessário.
   De fato, em nossa sociedade parece ser preciso, em alguns momentos, a presença desses "valentões", ou seja, de alguém que dita a ordem. Não que seu poder seja legítimo, porém, em vista da atual conjuntura, pode ser menos ruim a presença do que a ausência dos mesmos. Talvez este seja o caso da existência de algumas potências militares mundiais. Não que suas atitudes sejam justificáveis, mas, querendo ou não, equilibram algumas situações. 
   Para esta geração, talvez o programa do Chris se torne um equivalente ao do Chaves. Não importa quantas vezes os assistamos, provavelmente vamos rir muito. As piadas desses seriados parecem não envelhecer com o tempo, ou se envelhecem, não no mesmo ritmo da sociedade. 


De Alexandre Valério Ferreira





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