O último diário do cigarro

Foto: http://axgig.com/images/36453159683561271420.jpg

De Alexandre Valério Ferreira

_________________________________________

  Eram dias felizes. Tudo era paz e tranquilidade. Eu, meus amigos, o maço e a bendita rotina. Dias frios e agradáveis. Porém, em dia daqueles um irritante humano me levou por algumas moedas. 
  Eu já sabia. Sempre me disseram, mas nunca quis acreditar. É o meu fim. Mas, eu me considero um batalhador. Não sou um objeto qualquer, sou um belo e bem fabricado cigarro. Não posso morrer em vão. Sou especial.
  O sádico humano começa a me queimar. A dor dilacera meu interior. Morrerei, mas levarei ele junto. Vou infectá-lo com meu veneno! Tome nicotina! Tome alcatrão! Tome acetona! Sofra do meu veneno mortal como castigo.
  A dor do fogo me enlouquece. As brasas em meu interior me corroem lentamente. Vou lutar. Ingira minha fumaça, humano. Queimarei você por dentro. Sua garganta não vai aguentar tanto, acredite!
  Guerra é guerra. Não existem leis. Como castigo por essa cruel morte, vou expelir minha fumaça cancerígena para os amigos, filhos e parentes deste humano que de forma descontraída envenena toda uma geração.
  Sua vida será curta, assim como a minha, humano. Estou morrendo, mas você também está. Você acelerou meu fim e eu o seu. Estamos quites. Paguei na mesma moeda. E falando nela: quantas gastou para se matar lentamente? Quanto dinheiro desperdiçou? Mas não ligo, pois meus queridos e amados criadores, que tanto me prezam e investem, estão nadando em rios de dinheiro. Estão felizes. Talvez nem mesmo fumem como você!
  Minha vida está se extinguindo. As cinzas que de mim se perdem não serão em vão. Junto com elas se perdem os sonhos e esperanças do meu fumante. Nelas ele descarta suas dores e ansiedades, mas mal percebe que o pior eu deixei: meu veneno. 
  Vou amaldiçoá-lo com doenças. Sofrerá com elas. Não só ele, mas aqueles a quem ele ama. Alguns podem condenar minha vingança, mas eu não ligo para julgamentos. Não ligo para ninguém. Só quero saber de mim e da minha dor. Adeus, mundo cruel!

  


Comentários

Veja também