O mata-burro

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De Alexandre Valério Ferreira


   Lá no sítio das Oiticicas, perto do Boqueirão, próximo ao Rio do Tejo, havia um burro inteligente. Sabia de tudo. Não era enganado por ninguém. Todos o procuravam em busca de conselhos e orientação. Não havia nenhum ancião que se igualasse a ele.
  Porém, tinha algo que o deixava constantemente insatisfeito. As pessoas o consideram burro, mesmo ele sendo um burro. Por quê esse preconceito? Só porque ele era um burro, isso não significava, necessariamente, que ele fosse de alguma forma burro.
  Parecia muito lógico para sua mente avançada, mas não para os outros que com ele conviviam. Quando relinchava, diziam que parecia um idiota. Será que era isso a origem desse ultrajante desrespeito? Talvez sim, talvez não.
  Para o burro, burro era quem não entendia que os burros não tinha nada de burro. Pelo contrário, costumavam ser intelectuais. Eram curiosos e não seguiam de forma cega o que os outros diziam ou cochichavam. De qualquer forma, não havia burro que não se sentisse irritado com o fato de seus nomes serem tão pejorativos.
  Burro deveria ser um elogio, uma qualidade a ser alcançada. Mas, os humanos tornaram o nome num motivo de chacota. Como fossem os mais inteligentes do universo... Paciência... Diz-se que os ignorantes sempre acham que tudo sabem.
  O mais chato é que os humanos o julgavam por sua aparência e não por suas qualidades. Criaram um tal de "mata-burro". Que termo ridículo, não acha? Afinal, aquelas vigas que dificultam a passagem de animais de casco não testam a inteligência de ninguém. Creio que seja difícil para qualquer criatura que possua um pé ou pata com menos de 10 centímetros de comprimento conseguir atravessar aquele bendito "matador".
  Mas, isso não importa, não é verdade? De fato, até mesmo as vacas e porcos caçoavam do burro, pois este não podia atravessar o tal do mata-burro. Diziam que aquilo era uma prove evidente e inegável de que o burro era realmente burro. Parece que satisfaziam seus egos ao saberem que não eram os únicos incapazes de atravessar aquele teste doloroso.
  O burro não entendia tamanha ignorância. Afinal, todos os outros animais que dele caçoavam também sofriam com o mata-burro. Ficavam isolados do mundo externo, preso por aquelas cercas de arame farpado. O pobre burro não entendia que o nosso sucesso se baseia em nos comparar com os outros e nos sentir melhor do que eles. Pelo menos, era assim que eram ensinados. Que burro mais burro!



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