O cachorro e a praia


  Era um dia perfeito. O céu estava cinza, as nuvens, carregadas. Uma forte brisa gélida assustava os guarda-chuvas, que se contorciam e abandonavam seus donos diante das bilhões de gotas d'águas que molhavam nossa cidade. Uma enxurrada cobria as ruas. Algumas crianças alegremente procurava pegar algum tipo de infecção. Mas, conseguiam. Pobre coitados.
  Chamo meu dono para ir a praia. É, você deve ter estranhado meu gosto. Sou assim: amo chuva, frio, água. De fato, não sou um cão normal. Mas, nenhum é. Sou excêntrico, mas sou feliz. Tomo banho duas vezes ao dia. Sempre vou no veterinário (às vezes, sem o meu dono, que morre de medo de qualquer tipo de hospital). Ele é medroso, o "bixim".
  Assim, neste dia chuvoso e alegre fui à praia banhar. Não tem coisa melhor que a água do mar. Brinco horas e horas nas ondas. Meu pobre dono, cansado, fica apenas admirando o mar. Ele é de ficar pensando muito. Acho que é o mal dele (ou não). Um dia desses resolvi fazer o mesmo que ele: ficar de forma lerda olhando para o mar, perdendo a diversão e alegria de um dia perfeito.
  Nos primeiros trinta segundas, bateu um tédio. Porém, como sou teimoso (teimo até com minha cabeça), resolvi ficar mais um pouco. Olhei para as ondas e olhas não deram a mínima para mim. Pareciam me chamar insistentemente. A brisa desordenava meus pelos (e espero que tenha afastado as pulgas...). Tentei refletir sobre a vida. Pensei na ração de ontem, do osso que enterrei e da injeção que tomei. Depois, tornei a pensar nas ondas, no seu vai e vêm, na sua constância. Eu amo o mar. 
  Quem sabe não seja este o motivo de eu gostar tanto de água? Ela nos limpa, nos purifica. A água se acomoda em qualquer ambiente, é razoável. Ao contrário de muitos de nós, que insistimos em correr atrás dos carros mesmo sabendo que nunca vamos alcançá-los. Porém, não deixa de ser divertido. Eita, acho que filosofei. Bem...agora cansei. Vou lá banhar!



Alexandre Valério Ferreira






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