Janela de cima

Avião. Foto: Autor.
  As nuvens cruzavam meus pensamentos. Gotas faziam as janelas chorar por alguns instantes. Um doce mar de algodão doce me fazia esquecer as minhas origens. Onde estavam as grandes cidades? Cadê as belas mansões? Não enxergava o orgulho. Só via a imensidão. E, lá no fundo, manchas humanas se contrastavam com a imensidão do nosso planeta.
  Olhei pela janela. A mais de 10 quilômetros abaixo dos meus pés, uma cidade vivia e por ela eu cruzava. Não toquei nela, nem ela em mim. Continuamos indiferentes. Ela não me dava um oi nem boas vindas. Para quê? Afinal, lá eu não ficaria. Adeus pequena cidade desordenada, dizia em minha mente. Será que ela sentiria saudades de mim?
  E, entre nuvens e chuvas, uma outra cidade dava sinal de vida. Esta era enorme. Era uma enorme ferida no verde que a seu redor lutava. Quantas vidas se viviam naquele aglomerado? Será que em alguma delas a minha presença era observada? Mas, que isso importava? Eu não conhecia ninguém (eu acho). De repente, eu conhecia, mas não lembrava. Talvez não importasse mais.
  Das nuvens, as cidades pareciam parte de um sonho. Pareciam bonitas. Pareciam um intricado quebra-cabeça. Realmente, elas quebravam a cabeça de muita gente. Quantas mentes ali raciocinando ( ou não)! Se todo o esforço fosse conjunto, o que aconteceria? Mas, as cidades são constituídas por peças desunidas, que, apesar de interdependentes, muitas vezes não conseguem se conetar.
  Aqui de cima, percebemos a nossa pequenez. Afinal, daqui não via os carros, mansões, roupas de marca. De repente, isso não significava nada. Triste é que o orgulho de alguns faz que tais se enxerguem acima das nuvens, acima de todos. Mas, é apenas uma ilusão. No fundo, vivemos lá no fundo, numa imensidão inimaginável, incompreensível  É, somos apenas um pequenino grão na Terra.


Alexandre Valério Ferreira





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