O balanço

Balanço. Foto: http://www.imagensdeposito.com/estacao/10406/balanco.html
  Uma pequena garota estava a balançar em um parque. Seus olhos se fechavam de tanta alegria. Gritava e dizia que sentia medo. Porém, não parava. Seu irmão, um pouco mais velho, continuava a empurrá-la. Cada vai-e-vem era mais rápido. Ela queria alcançar a lua. Se não, apenas queria alcançar as nuvens. Era muito ousado seu plano. Dizia ela que consegui alcançar.
  Uma jovem idosa procurava algo. Acho que era sua juventude. Sentou-se por alguns instantes naquele balanço. Seu neto, eu acho, a empurrava levemente. Seu plano era mais ousado do que o da pequena garota. Ela queria seus 18. Pena que já não havia como, dizia o rapaz que a acompanhava. Ela, com um olhar um tanto decepcionado, argumentava que ele estava errado e que ele parecia ter 100 anos de idade.
  Não sei porque, mas um pobre mendigo decidiu também ali balançar. O que ele sonhava? Queria um pouco de algodão doce. Mas, algodão doce por aqui não havia. Mesmo assim, ele queria. Nunca comeu, mesmo na infância (se é que ele teve alguma...) Ainda assim, ele balançou. E não foi pouco. Dizia ele que quase subiu ao ponto de capturar um pouco daquele imenso algodão doce que sobrevoava pela cidade de forma inusitada.
  Eu também queria balançar, mas tinha vergonha. Então, começou a nevar. Nevou forte. Todos saíram do parque, mas eu não. Fui balançar. Estava frio e escorregadio o banco. Mesmo assim, eu balancei. Os flocos de neve cobriam tudo. Cobriram meus medos. E uma nova folha branca, limpa, pronta para novos textos se formava em todo o jardim. Balancei até cair. Não, não cai. O que caiu foi a vergonha de ter vergonha de ser criança.


Alexandre Valério Ferreira



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