Janela molhada

Chuva. Foto: Autor.
   Era um dia qualquer. Mas, como um dia qualquer, era bem diferente. Parecia ser bipolar, eu pensei. Talvez sempre fosse assim. Talvez não. Seria a ansiedade que me deixava indeciso ou seria a indecisão que me deixava ansioso? Não sei. Só sei que o dia parecia confuso. Não se definia, não se encontrava. E parecia que eu ia no mesmo rumo.
   Era um dia daqueles típicamente diferente. Ora chovia, ora fazia calor. Uma grande indecisão. Parecia que o tempo resolvera brincar comigo. Talvez, com todo mundo... Digo 'todo mundo' porque eu estava viajando. Atravessando uma extensa rodovia. Cortando cidades e montanhas, a procura do meu rumo, do meu objetivo, de mais uma aventura.
   Naquele dia, o clima variou diversas vezes. Não consigo contar quantas vezes passei por forte chuva seguida por locais completamente secos e quentes. Acho que as nuvens estavam desunidas. Quem sabe? Choviam esparsamente aqui e acolá. Quanto favoritismo! Que preconceito. Onde mais precisava hoje estava seco, mas naquela cidade abarrotada de carros, as ruas se tornavam verdadeiros canais.
   Talvez o mais irritante fosse o esforço em ligar e desligar o limpador de pára-brisas (nome engraçado, não acha?). Os vidros estavam secos quando começavam os pingos d'água. Coitados deles; não atingiram o seu objetivo. Estavam presos no pára-brisas. Agora, procuravam loucamente alcançar o topo. Uma disputa para conseguir chegar ao seu ponto final: o solo.
   Gosto de chuva, menos quando estou dirigindo. O frio é agradável; a insegurança, não. Engraçado como uma janela molhada trás uma certa tristeza. Já notou que nos filmes geralmente alguém morre durante uma chuva? Ou um funeral ocorre em meio a uma tempestade? Em outros, a pessoa está triste e olha para uma janela cheia de gotículas d'água descendo. Melhor não lembrar disso, tenho que chegar ainda hoje!



Alexandre Valério Ferreira



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