Pé-de-Moleque

De Alexandre Valério Ferreira

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O papel presente consistia em folhas de bananeira levemente queimadas. Cobria um cheiroso pé-de-moleque. Compramos numa feira semanal na periferia de Fortaleza. Eu me surpreendi ao encontrar amostras típicas da culinária nordestina sobrevivendo ao mundo industrializado.

   Mas, fui inocente ao reagir dessa forma. Nos bairros distantes dos grandes centros, a vida urbana e rural ainda disputam espaço entre si. É fácil encontrar vacarias, chiqueiros, galinheiros e pequenas lavouras. Além do pé-de-moleque, facilmente encontramos outros produtos típicos, como broas, maria-maluca, beiju, pamonha, chegadinha, maçã-do-amor, fubá, biscoitos de polvilho, mucunzá, canjica e tantos outros.

   O pé-de-moleque da foto acima é feito com puba, coco ralado e açúcar. Adicionam-se condimentos que lhe dão um gosto peculiar, como o cravo ou a erva doce. Na hora de colocar no fogo, é coberto com folhas de bananeira, o que lhe confere o sabor característico. 

Há outras formas de se fazer pé-de-moleque. A minha preferida é aquela em que se inclui castanha de caju. Neste caso, ele é preparado como um bolo. É delicioso. Nem sempre é muito doce. Vale a pena provar.

  Nunca percebera antes esses detalhes. Ao ler CASA GRANDE & SENZALA, de Gilberto Freyre, comecei a enxergar esses detalhes domésticos que nos fazem um povo tipicamente brasileiro. Irônico é notar que a culinária do Brasil são variações, adaptações e criações feitas pelos escravos trazidos da África. 

   De fato, como o autor do livro já citado consegue destacar, somos um povo mestiço, uma mistura de europeus, indígenas e africanos. E, apesar de toda a história macabra pelas quais muitos passaram, vivemos com o resultado da resistência de diversas culturas, pensamentos, povoados. 

   Talvez, devêssemos valorizar mais o que vemos a nosso redor. Não que rejeitemos tudo que é estrangeiro. Pelo contrário, aceitar que o mundo é feito das mais diversas culturas e isso o torna especialmente interessante.