Janela e a Luz



De Alexandre Valério Ferreira

____________________________________________________


Ondas eletromagnéticas penetravam em meu quarto sem permissões. Iluminavam as paredes e o meu dia. Colunas distorcidas eram desenhadas na poeira que sobrevoava em meu ar. Meus olhos já não conseguiam fingir que não era mais noite.
  Na verdade, minha janela consistia em um basculante. Não era nada bonito. Normal, aliás. Não que eu seja preconceituoso com o que é normal. Na verdade, eu sou. Pois, em geral, o normal é estranho. Talvez eu pense dessa forma por acreditar que tudo que se torna comum deve ser visto com muitas ressalvas.
  O basculante acabou com meu sono. E mesmo sendo domingo, eu me levantei na mesma hora de sempre. O hábito causa esses desconfortos de vez em quando. Não que eu seja contra a rotina. Aliás, é... não sou contra mesmo. É preciso seguir no automático de vez em quando. 
  Ele também dá um gostinho especial para a vida. Nossos dias não podem ser super mega espetaculares todo momento. Isso nos esgotaria. Ninguém consegue ficar a mil por hora durante muito tempo. Precisamos relaxar.
  Talvez seja por isso que muitos andam tão ansiosos. O estresse tem causado uma desgraça e tanto. Parece uma epidemia fora de controle. Não é para menos. Afinal, alguns tentam fingir que ela não existe, enquanto outros minimizam seus efeitos. Tentam esquecer da luz que clareia e machuca a vista. Mas, uma hora terão de acordar. 



 

Comentários

Veja também