O Estranho
De Alexandre Valério Ferreira
Baseado na música "Cara Estranho", do Los Hermanos.
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José era um estranho dentro de si. Parecia um Harry Haller, do Lobo da Estepe, onde via uma guerra interna, uma angústia constante sobre o que foi, o que era e o que deveria ser. Nunca encontrava respostas. Era um estrangeiro em seu próprio corpo.
Esse desencontro não lhe conduzia a nada. Na verdade, o distanciava cada vez mais da solução. Para José, era melhor construir muros do que desenvolver pontes. Estas exigiam algo dele que ele não acredita possuir: atitude. Além disso, era necessário ter confiança em si e nos outros. Os tropeços que sempre tivera lhe convenciam de que as próximas tentativas resultariam no mesmo fim: derrota.
Assim, para viver em sociedade, para tentar "ser alguém", ele absorvia papeis que não lhe representavam. Tentava ser o que ele não era. Máscaras que ele imaginava estarem agradando os olhares externos. Ilusão esta que ele tentava se segurar, apesar da vida mostrar-lhe que as coisas não funcionavam assim.
Ele queria agradar os outros, mas não aceitava a si mesmo. Na sua busca pela atenção, criava ódio, despeito, desgosto, por onde andava. Ele imaginava que o viam como arrogante e, por isso, tentava agir como se fosse outro alguém. Acabava por não agradar nem a gregos e nem a troianos. Corria-se por dentro e desfazia os vínculos com quem tentasse se aproximar dele.
Quanto mais ele corria nessa louca tentativa por atenção, mas esta lhe era negada. Porém, ele não queria largar seu pote de angustia. Não conseguia aceitar que toda a dor estava na sua insana procura por não senti-la. E quanto mais fugia, mais se aproximava de suas dores. Infelizmente, as ilusões lhe cegaram e construiram sobre sua sensatez uma carapaça de orgulho e autopiedade.
Digno de pena, mas não de amizade. Era assim que José por fim se tornara. Trágico era perceber que poderia ter sido diferente. Talvez ele pudesse ser uma pessoa melhor. Não posso julgá-lo pelo que ele é agora. Não sei sua história. Mas, ele não se sente bem. E isso fica evidente ao tentar constantemente mostrar o oposto.
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