No bocejar das horas


De Alexandre Valério Ferreira

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  Os ponteiros insistiam em apontar o tempo. A cada 15 minutos, o relógio me alertava das horas. Num bocejar, eu olhava para a janela e retornava à preguiça. A clientela hoje estava fraca. Dia ruim.
  A coluna da hora estava de intriga comigo. Eu podia jurar que ele me alertara umas quinhentas vezes de que se passaram 15 minutos desde que cheguei, mas o ponteiro não saía do lugar.
  O dia passou, mas nada de o tempo passar. Havia um descompasso que sincronizava perfeitamente com meu grau de tédio e de preguiça. Estaria o relógio com sono? Que insatisfação seria aquela? Não percebia minha agonia diante da ociosidade que me matava?
  Alguém me ajude, por favor! Uma senhora entrou irritada. Reclamava escandalosamente de um produto que, segundo ela, não funcionava bem. Não era nossa culpa. Mas, era evidente que ela desejava alguma compensação.
  Eu não estava com cabeça para aquilo. Tentei acalmá-la. Talvez tenha passado horas naquele debate inútil. No final, ela aceitou um produto equivalente. Mas, o relógio, em seu sadismo para comigo, não movia seus braços desiguais.
  O que o tempo queria comigo? Ver eu sofrer eternamente no infinito do tédio? Deixar eu apodrecendo na agonia do cansaço mental? Esperar até que eu desista de tudo e peça demissão, mesmo sabendo que não tenho outra renda?
  Finalmente, chegou a hora de ir embora. Enfim, livre. Ajeito minhas coisas para retornar para casa. Que dia horrível. Não trouxe relógio e nem celular. Dei uma última olhada na janela para ver que horas eram. 
  O relógio apontava o mesmo horário desde que cheguei!!! Como assim?! Perguntei, abismado, a um colega de trabalho. Ele, desatento, comentou rapidamente que a coluna do relógio estava em manutenção. Os ponteiros não estavam funcionando. O tempo não se moviam.

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