Cento e Dezesseis
Ela já começa difícil. Uma estranha rotatória liga três importantes avenidas a uma importante rodovia. Para ser mais exato, a principal do País. Ela sai da Terra do Sol (Fortaleza) e vai até os gaúchos (Jaguarão). E se o Uruguai ainda fosse brasileiro, talvez fosse até o Rio da Prata.
Gosta de ser chamada de Rodovia Santos Dumont. Afinal, ela tem em sua partida uma base aérea. Mas não só isso. Trás consigo desde o princípio as mazelas que se repetem por todo seu caminho.
Sofremos para iniciar nela. A tal rotatória é nada cordial. Muito menos é uma bendita curva acentuada que dá início a essa rodovia famosa. Sim, os primeiros 10 minutos nessa trilha de asfalto já constitui um perigo e tanto. Algo que se repetira durante todo seu percurso...
Mal estamos saindo de Fortaleza e já somos capazes de compreender metade de suas problemáticas. Na BR encontramos um resumo da cidade. O céu é belo. O horizonte também. Gosto desta cidade.
Mas, aqui na BR - 116 encontramos de tudo que se não deixa de ver pela cidade afora. O contraste é o maior destaque. Ricos ao lado de pobres numa desunião de concretos e dignidades. Cercas e arames isolam os ribeirinhos. Cercas e arames também isolam os mais ricos.
Ao fundo do Lagamar, enxergamos a bela floresta de concreto armado que é regada na Aldeota. Mas, basta mudar o foco da vista e encontramos uma multidão vivendo em casas paupérrimas, constantemente ansiosas pela comida, não do dia seguinte, mas da semana passada...
Deveríamos condenar esta cidade, portanto. Talvez sim. Mas, ela seria também um bode expiatório. Pobre cidade rica, inchou com o êxodo rural. Ocupada e cercada. A periferia cresceu sem afeto. As mansões das dunas também.
Se fosse apenas no Ceará. Ah! Se fosse apenas aqui! Quão bom seria! Mas, a BR-116 nos informa friamente de que isso é figurinha repetida. E ainda afirma que tem lugares onde a situação é ainda pior (ou melhor).
Tenho pena da 116. Vê de tudo todo dia. Desgraças, sorrisos, esperanças e desilusões. Será que ela não se cansa? Não ficou enfadada? Desistiria de seu ofício se pudesse? Eu, sim. Mas, cada um leva sua carga. É a vida.
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