Diário do Esquecimento


De Alexandre Valério Ferreira


  É um processo lento. Muitas vezes, imperceptível durante anos. Porém, dia após dia, o que era não é mais. E as caixas de arquivos se tornam vazios existenciais. Tudo branco. Tudo preto. Nada. Tudo.
  A cada dia, as lembranças vão se enferrujando. Vão se tornando rígidas. Perdem as cores. Desbotam. O tempo e o vento ajudam. As lágrimas salgadas aceleram o processo. A falta de cuidados, também.
  De repente, algo cai. Algo se perde. Está corroído. Está perdido. Mas, o espanto é a mais pura enganação, pois tudo acontecia a muito tempo. Palavras não ditas. Sorrisos guardados. Desculpas não perdoadas. Remorsos ativos. 
  Aos poucos, tudo isso ia destruindo as lembranças. E aquilo que tinha um papel importante (quem sabe, até mesmo vital), vai se tornando supérfluo, desnecessário, irrelevante. Já não "presta" mais.
  E quando se apercebe que a situação está séria, ao invés de procurar uma solução ou aceitar as coisas tais quais elas são, procurasse enganar as ideias, os pensamentos. Desculpas paliativas. Auto misericórdia. E tudo prossegue no processo de esquecimento.
  Já não se sabe que palavras deve usar... As reticências começam a predominar nos textos... Aquela palavra (qual mesmo?), some. Aquele sentimento, cadê? Está desbotado. Sem vida. Foi assim que ele caiu no esquecimento. Mas, não sumiu na mente dos outros e sim na sua própria noção de auto existência. Ele já não existia para si mesmo.



Comentários

Veja também