Reflexõs da Caatinga

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De Alexandre Valério Ferreira


  Lendo OS SERTÕES, de Euclides da Cunha, tornei a refletir sobre a caatinga. Há mais de 100 anos (1897), esse famoso escritor destacava a miséria e dificuldades do sertão nordestinos. Mas, não com base em preconceitos e crendices, mas nas próprias observações dele.
  Quando lemos esse livro, parece que estamos vivendo naquela época. Afinal, pouca coisa mudou no sentido estrutural. É evidente que houveram algumas alterações políticas e sociais, como o crescimento de cidades, a urbanização e o avanço das telecomunicações. Ainda assim, no geral, parece que é tudo do mesmo jeito a mais de 300 anos.
  A principal similaridade é a forma com que se lida com a seca. Evento já conhecido a muito tempo, deveria ser algo fácil de se suportar em tempos atuais. Com as novas tecnologias de plantio, cultivo, armazenamento e reuso de água, a vida do sertanejo deveria ser muito mais simples.
  Porém, nos últimos 3 anos, uma nova seca vem atormentando a região. Novamente, parece que a solução é esperar. Sempre é o caminho... esperar. Mas, afinal, esperar pelo quê? Alguns tem fé, outros não. Alguns aguardam alguma atitude política, outros não.
Mas, é sabido que o problema não é a seca, mas a cerca, o bendito latifúndio, a base rural do Brasil.
  Diferentemente de nós, a natureza entendeu como as coisas funcionam. Ao invés de chorar nos cantos, ela se adaptou. Na caatinga, encontramos diversas espécies de cactos, como as palmas, que aprenderam a armazenar água e suportar grandes períodos de seca. As plantas, em geral, desfazem-se de suas folhas para evitar a transpiração. Ficam "hibernando", esperando as gotas de água do ano seguinte para ressurgirem verdejantes. 
  Engraçado como parece que no período seco, a natureza parece morta. Mas, não está. As plantas estão apenas se preservando. Já sabem como lidar com o amargo sertão. São resistentes, pois mesmo ao calor do sol e naquela água salina do interior, continuam firmes, provendo sustento para diversas formas de vida.
  De repente, seria este o caminho. Saber aceitar as coisas tais quais como são. E, a partir daí, aprender a lidar com os fenômenos que existem. Difícil é aceitar que esta é uma das soluções. Mais complicado ainda é ver alguém interessado por isso. De qualquer forma, vamos esperar para o inverno do ano que vem. Um dia tudo será melhor!



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