Debaixo do Tapete

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De Alexandre Valério Ferreira

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  'Que mal poderia acontecer por eu esconder a sujeira debaixo do tapete?' Assim pensava Alberto. Ele, como muitos outros, não se preocupava muito em organizar seu quarto. Era "seu" estilo e ele se orgulhava disso.
  Um dia daqueles de muita correria, a mãe de Alberto teve que sair e deixou as chaves de casa com ele. No quarto, o jovem universitário curtia na internet, vendo filmes e jogando um pouco. As coisas de seu quarto estavam como se um furacão houvesse assolado sua residência. Mas, isso nunca o incomodara. Bastava ter que estudar para as provas.
  Já eram 9:14 a.m. e Alberto lembrou que havia uma entrevista de estágio para ir. Como poderia ter esquecido? Se não fosse pelo evento que marcou no celular, talvez nunca mais lembrasse...
  Ele se arrumou. Tentou se pentear, mas sem muito sucesso. A camisa estava um pouco amassada, mas tudo bem. Reclamaria com sua mãe depois. Afinal, esse é o dever dela, não é? As meias estavam jogadas pelo quarto. Ele teve que usar duas diferentes. Era o jeito. 
  9:48. A entrevista era 10:30. Felizmente, ele morava perto e dava para ir de bicicleta. Tudo ia bem para os padrões de Alberto até que ele foi abrir o portão de casa. Cadê as chaves? Não estavam nos bolsos, na mochila e muito menos no chaveiro que ficava do lado da televisão da sala.
  Onde estaria? Alberto começa a ficar nervoso. Começa a lembrar que precisa desse emprego. Afinal, os dias estão difíceis e o dinheiro está curto. Assim, a ansiedade dele aumenta. Começa a fazer o que todos fazem: culpar os outros. Claro, em vão.
  Ele procura desesperadamente no quarto. 10:01. Revira gavetas e travesseiros. Quanto mais mexe, mais surpresas encontra, desde um ursinho de pelúcia da sua infância à uma calculadora científica que ele emprestara anos atrás a um colega e jurava que este havia lhe roubado. 10:13.
   De repente, resolve ir no banheiro. Estava apertado. Por incrível que pareça, a bendita chave se encontrava do lado do papel higiênico. Como foi parar lá? Melhor não pensar nisso, refletiu ele. Era necessário correr.
  Bem, após abrir o portão, pegou a bicicleta e saiu em velocidade máxima. A entrevista seria realizada em um escritório a sete quarteirões dali. Ele avança no sinal vermelho. Quase leva uma queda. Derruba uma pobre senhora. Pede desculpas. 10:26.
  Finalmente chega! Mas, espera: cadê a chave da corrente para prender a bicicleta?! Não havia tempo a perder. Ele chega às 10:34. Atrasado... Os entrevistadores o observam chegar. Nos olhos, o suor atrapalha. Ele procura enxugar-se em vão. Está com o coração a mais 150 batimentos por segundo. E começam as perguntas...
  Ele desce as escadas em completo desânimo. Notara que os entrevistadores não se agradaram da apresentação dele. Estava desarrumado, atrasado e ainda por cima, despreparado. O que fazer agora?
  Saindo do prédio, Alberto procura por sua bicicleta. Cadê? Pergunta ao segurança se a vira. Este diz apenas que um jovem a pegou e ele pensava que era dele, pois, afinal, ninguém seria louco o bastante para deixar sua bike de marca jogada na calçada sem nem mesmo colocar uma corrente. 
  Alberto, triste e desconsolado, abre o bolso da sua mochila a procura de algo para comer ou de dinheiro para comprar água. Sente, de repente, um som metálico. Ao revirar mais fundo, encontra as chaves da tranca da bicicleta. Sempre estiveram lá. Mas, como ele saberia?

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