Homens invisíveis
Gari. Foto: http://www.cmqv.org/website/artigo.asp?cod=1461&idi=1&id=1202 |
Fiquei realmente encantado com um trabalho exótico. Fernando Braga da Costa, psicólogo social da Universidade de São Paulo (USP), e, com indicação de seu orientador, decidiu que no seu mestrado ocuparia uma função de proletariado. Mas, seria um cargo que não se precisasse de conhecimentos específicos, como cursos ou graduação. Ele, então, começou a trabalhar como gari. (ENTREVISTA NA ÍNTEGRA)
Ele passou 8 anos sendo gari de meio período dentro do campus da universidade onde se formou. Esse exótico trabalho o ajudou a comprovar a existência da "invisibilidade social". O que isso quer dizer? Significa que, por fatores sociais, como a condição socioeconômica ou papel no mercado de trabalho, algumas pessoas são simplesmente esquecidas, desconsideradas, pela maioria. Sim, é um julgamento cruel, mas muito comum na sociedade capitalista.
Costumamos julgar as pessoas por sua função e não por quem realmente ela é. De fato, Fernando Costa diz na entrevista que os professores ou alunos passavam por ele e poucos diziam "bom dia". Nem mesmo pediam desculpas quando por ventura se esbarravam nele. Até ex-professores dele nem ao menos olhavam para ele. Era como se ele fosse um poste, um objeto qualquer, algo sem grande importância ou pelo qual deveríamos prestar atenção.
De fato, seguindo o proceder de muitas empresas, parecemos julgar as pessoas mais pelo seu papel social, sua função, do que pelo que a pessoa é. É um verdadeiro estereótipo, uma associação equivocada.
Por exemplo, se olhamos alguém bem arrumado, de terno por exemplo, imediatamente julgamos que tenha lutado pela vida e que tenha sido bem sucedido. Talvez seja um empresário, advogado ou alguém de boa condição, no mínimo. Mas, se não está tão bem vestido, cai logo em descrédito. Imaginamos logo que seja alguém sem futuro, ou melhor, sem dinheiro.
Lembro de um amigo meu. Ele tinha boa condição financeira, mas resolveu ir em uma loja de roupas de marca com vestimenta simples. A atendente mostrou poucos ternos, escondendo os mais caros. Entretanto, quando chegou um cara bem vestido, ela imediatamente mostrou o que havia de melhor na loja. Isso acontece com frequência nos mais diversos lugares.
O mestrando citado no inicio admitiu na entrevista que chorava ao chegar em casa. Ele vivenciou a realidade de muitos. Realidade esta comumente esquecida, rejeitada. Mas, quanto a nós? Será que agimos assim? Somos bombardeados de programas de TV e novelas que destacam que o "sucesso" só vem de ter dinheiro (já notou que as novelas costumam ter como cenário mansões, escolas com toda estrutura e bairros nobres?).
Até mesmo nas escolas, educadores ressaltam a busca do prestígio como forma de ser feliz. Não é para menos, portanto, que vemos uma geração deprimida e insatisfeita, buscando freneticamente "aparecer" por meio do dinheiro.
Alexandre Valério Ferreira
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