O matuto e o mar
O mar. Foto: autor. |
Do que ele tinha medo? Por que fugia das ondas? Não tinha vergonha? Não via o ridículo pelo qual passava, com aquela gente lhe olhando com desdém? Não sei responder. Mas, o que sei é que ele parecia ter por volta de 16 anos. Não estava só. Acompanhava um garoto de uns 10 anos que, da mesma forma que ele, brincava loucamente na praia, fugindo das ondas e rolando na areia.
A cena parecia ridícula. Afinal, cidadãos de uma metrópole urbana já estão bem acostumadas com as praias. Vão mais para relaxar, quebrar a rotina de uma semana estressante ou para aproveitar a brisa do litoral. Nada demais. Mas, aqueles dois rapazes certamente não eram daqui. Logo se vê pela emoção que demonstravam. Alguns diziam numa barraca próximo a minha que eles eram "matutos".
Matutos. Já ouvi muito essa expressão. Geralmente, é um termo depreciativo dado a pessoas ignorantes, com pouca cultura e formação educacional. Matuto é uma pessoa que não sabe se portar muito bem, não por maldade, mas por não saber como, pela ausência de bom conhecimento. Matuto não é uma pessoa má, só não tem muito estudo. Logo, acaba agindo de forma cômica ou tola, diante das pessoas em geral.
Por essa definição (que eu acabei de inventar), aqueles meninos seriam mesmo matutos. Pobres coitados, nunca viram o mar antes. Isso é triste. Temos um litoral tão grande, como pode haver pessoas que nunca foram na praia antes?! Fico espantando.
Eles continuavam brincando. Fugiam das ondas. Para piorar, gritavam de dor quando a brisa forte fazia que a areia lhes acertasse nas pernas. Parecia até que estavam sendo torturados, pelas suas expressões faciais. Era tudo muito engraçado. Eu me segurava para não rir sozinho. Só não dei uma gargalhada porque alguns próximo a mim olhavam os garotos com desdém. Não gosto de gente assim.
Bem, deu umas 4 horas da tarde, e eles estavam saindo. Notei, entretanto, que o jovem de 16 anos derrubou a carteira na areia. Decidi ajudar e devolvi a carteira pare ele. Mas, antes mesmo de devolver, não pude deixar de perceber um dos documentos que caíram. Era um documento do CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia). Espere! Ele era engenheiro e tinha 25 anos!
É, eles não eram ridículos, eu que era ridículo. O rapaz que era engenheiro moravam em Mato Grosso e estava visitando os parentes no interior do Ceará. Então, decidiu levar o garoto e sua tia para conhecer o mar. Então, não pôde deixar de brincar com o pequeno primo, curtir a praia e a vida com eles.
Talvez fosse isso. Não sei, porque não tive coragem de perguntar. Só sei que ele era de Mato Grosso e o menino do interior. Bem, no final do dia, fiquei a me perguntar quem realmente era matuto: a gente da cidade grande ou o humilde rapaz do interior do Brasil?
Talvez fosse isso. Não sei, porque não tive coragem de perguntar. Só sei que ele era de Mato Grosso e o menino do interior. Bem, no final do dia, fiquei a me perguntar quem realmente era matuto: a gente da cidade grande ou o humilde rapaz do interior do Brasil?
Alexandre Valério Ferreira
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