Mesmas cores

Cores. Foto: Autor.
  Bob andava sempre pelas mesmas ruas, pelo mesmo caminho. Fazia sempre o mesmo trabalho e conversava com as mesmas pessoas. Todos os dias eram sempre iguais. É até as sextas-feiras eram os mesmos entretenimentos, as mesmas piadas e os mesmos sorrisos. Ele vivia bem. Não passava fome. Não tinha grandes dores de cabeça. Mas, não víamos alegria em seus olhos.
  Que havia de errado com Bob? Não sei. Um dia, no trabalho, chegou uma colega muito animada. Era segunda feira. Só por isso já se estranhava aquela alegria toda. Bob ficou curioso e quis saber a razão de tamanha euforia. Clarice disse que estava muito contente por causa da viagem que teve. Foi na Holanda. Ela disse que o que mais gostou foi da quantidade de flores.
  Bob foi ver as fotos. Nada o chamou muito atenção, exceto...exceto por um detalhe. Ele viu uma espécie de flor que tinha na sua casa. Clarice gostava daquelas flores. Perguntou porque ele se espantou. Bob admitiu que não imaginava haver flores de tantas cores da mesma espécie. A principio, até imaginou que fossem editadas ou quem sabe, geneticamente modificadas. Clarice brincou que só quem tinha problemas era a cabeça de Bob. Devia estar ficando velho. 
  Então, perguntou para Bob qual a cor das flores que haviam em sua casa. Bob ia responder quando, de repente, se tocou que não lembrava. Como era possível? Ele não lembrava? Fazia anos que sua mãe cultivava aquelas flores. Como podia saber qual a cor? Bem, para não passar vergonha, ele disse que eram violetas. 
  Voltando para casa, Bob não pode deixar de pensar no que se passara. Que ridículo! Como havia esquecido a cor das flores? Estaria sofrendo do Mal de Alzheimer? Chegando em casa, foi direto ver as tais flores. Bem, elas eram laranjas. Ele havia se enganado. Quantas outras coisas ele andava se enganando? Não conseguiu enxergar as cores de uma flor com a qual convivia a anos?! O que mais ele deixou de enxergar?
  Deu uma volta no bairro. Eita! Como as coisas mudaram! Aquele garoto, meu colega de futebol, como ele mudou. Até casado está! E o filho do Jorge? Cresceu tão rápido! Quantos anos tinha? Não lembro desta praça! Ham? Me lembro que ali havia uma loja de doces, que será que aconteceu? Bem, parece que houve um incêndio e os donos morreram. Não sabia disso.
  Parecia então que Bob estava vendo um novo mundo. Sendo que era o mesmo mundo que convivia a décadas. Ao sentar numa praça, do lado de uma velha árvore, Bob descobriu. Quando vivemos apenas a mesma rotina, deixamos de enxergar o que a além do nosso círculo. 
  Dai, esquecemos que existem outras cores além do preto e do branco. Se vivemos sempre de um mesmo jeito e agimos sempre do mesmo modo, é como se só enxergássemos em 2 cores. Só que existem milhares de outras tonalidades visíveis. Uma infinidade de cores. Uma infinidade de soluções. Só precisamos enxergar.


Alexandre Valério Ferreira



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