Reflexos


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AS luzes se refletiam através da lagoa. Daqui, parecia uma imagem plana, sem profundidade. Era como um espelho perfeitamente colocado abaixo da cidade. Uma rajada de vento, porém, desfez aquela "perfeição".
  Dançavam, as luzes. Eram difusas. Não refletia perfeitamente a imagem que sobre a água batia. As silhuetas se perdiam em vibrações. O mesmo vento que desfizera o espelho plano, causara em mim alguns calafrios.
   O clima dizia que era o momento de retornar para casa. A névoa, antes discreta e arredia, era denunciada pelas luzes dos postes. Eu me levantei. Andaria um pouco mais de um quilômetro até meu quarto. 
   Andei desatento. Observava a lagoa. Não que ela fosse especialmente bela. Na verdade, é difícil que uma lagoa por si só é bela. Geralmente, é sua moldura natural que as tornam especiais. Esta era rodeada de concreto, mas margeada por jardins e no plano de fundo do cenário haviam belas montanhas. Sem esses detalhes, poderia dizer que era bonita? Quer dizer então que sua beleza resumia ao que nela não estava? De certa forma sim.
   Acontece isso quando andamos com pessoas que tem certo status social. Somos privilegiados pelo que nos rodeia e não pelo que realmente somos ou temos. Claro que esse é um exemplo infame e reflete alguns aspectos negativos de nossa sociedade. Porém, exemplifica bem o que eu desejava dizer.
   Lembrei-me daquele velho ditado: "me diga com quem tu andas, que eu direi quem tu és". Por um lado, podemos ser julgados pelos outros em consequência de nossas companhias. Por outro lado, nós mesmos nos definimos por aqueles que nos cercam. Vital, portanto, é saber o que realmente nos rodeia.
   Bem, como sempre, eu me perco nos pensamentos. É o que acontece quando não se tem algo em foco para refletir. Só queria desopilar. Talvez não tenha dado muito certo. O clima está ficando mais frio. Melhor ir descansar.


De Alexandre Valério Ferreira



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