Janela de um Enquadramento

Foto: http://www.amopintar.com/wp-content/uploads/moldura-enquadramento-41.jpg

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COMO repassar aquilo que eu vejo? Por meio de uma fotografia? Talvez. Mas, ela consegue abarcar tudo? Será que em apenas uma imagem podemos retratar tudo aquilo que enxergamos? Os que a verem conseguirão captar a ideia que tentamos transmitir?
   Não dá para envolver tudo aquilo que eu vejo. Mesmo uma filmagem está limitada ao enquadramento que fazemos. Apenas a angulação que utilizamos, aquele retângulo, será visto pela audiência. Todo o resto, ou seja, praticamente uma infinidade de informações, serão descartadas. 
   É bem verdade que é assim que vivemos. Não podemos nos concentrar em tudo ao mesmo tempo e com mesma intensidade. Precisamos focar em um objeto, uma ação ou um momento. Os outros eventos são vistos, filtrados pelo cérebro e esquecidos. Não são importantes naquele momento. 
   As fotos e filmagens possuem diversos enquadramentos. Podemos, a título de exemplo, destacar o corpo inteiro da pessoa, apenas do joelho para cima ou, quem sabe, apenas o rosto ou o detalhe da íris do olho. Tudo depende do que você quer passar para o seu observador. 
   De qualquer forma, temos que escolher o que exibir e o que não mostrar. Nossa lente vai focar em apenas um pedacinho da realidade. Para os que ali não estão, todo o resto não existe, pois nunca o viram. No máximo, podem imaginar como é o resto do cenário. Porém, isso pode ser bem enganoso. Dependerá mais deles do que de nós.
  Pense um pouco nos programas governamentais que mostram favelas ou obras apenas de um determinado ângulo. Parece que o local é perfeito, não é verdade? Tudo limpo e arrumado. Somos levados a crer que todo o resto é assim. Dessa forma, a parte representando o conjunto todo. Mas, não é bem assim que é na realidade.
  Escolher o que enquadrar é uma responsabilidade e tanto. Principalmente, no que se refere aos programas de notícias. A forma como direcionam as imagens e as informações revelam muito sobre a ética, a intenção e a posição do veículo. Cabe a nós também ficarmos atentos a esses detalhes. O enquadramento pode desvirtuar a realidade.
  E como gostamos de escapismos, não é verdade? Olhar apenas para o que nos convêm, com medo de precisar enfrentar a realidade. É a tal da verdade. Tão querida e tão odiada e questionada. 
  Cuidado também devemos ter com nossos enquadramentos. Será que observamos as coisas apenas de um determinado ângulo? A gente se concentra em apenas uma parte do cenário, da situação, do problema, e esquecemos de ampliar a visão? De repente, a saída está bem ao lado. 
        Já que é impossível enquadrar toda a realidade, tente ser humilde e reconheça tal limitação. Admita que você nem sempre estará completamente certo. Não se machuque quando descobrir que as coisas são mais amplas do que sua antiga visão afirmava ser. Aprenda a crescer com os erros. Amplie sua visão.


De Alexandre Valério Ferreira






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