Fazendo Careta

Alchimyst Beach Hotel. Foto: Autor.

_______________________________________________

FIZ careta ao provar daquela sopa. Rapidamente, minha esposa olhou-me com aquele jeito assustador de quem disse algo errado e fatal. Mas, eu não falei nada. Nem mesmo balbuciei! Porém, uma imagem vale mais do que mil palavras.
  É um fato. Algumas expressões podem comunicar diversas coisas. Assustador é saber que apesar de querermos transmitir determinada mensagem, nunca sabemos realmente se ela foi entendida como desejávamos. Ninguém tem o controle disso. Estamos sempre à mercê de interpretações erradas e precipitadas.
  Uma careta é uma forma de transparecer o que sentimos. Em geral, está associado a nojo ou zombaria. Não sou de falar muito. Mas, o meu corpo me dedura com grande facilidade. Há momentos que fico profundamente chateado com meu próprio organismo. Queria ser mais opaco.
  Mas, não o sou. Deixo transparecer aquilo que sinto. Não consigo disfarçar. Se estou chateado com alguém, rapidamente a pessoa descobre. Sou um péssimo ator. Isso é um defeito grave. Afinal, nós vivemos de papeis e atuações no teatro da vida.
  Tenho inveja daquelas pessoas que sabem disfarçar o que realmente sentem. Imaginamos que elas nos amam, mas no fundo nos odeia. Ainda assim, consegue nos convencer de tal forma que colocamos a mão no fogo por essas amizades.
  Sim, eu sei. Tais pessoas são perigosas e desagradáveis. Agem por egoísmo e são hipócritas. Não quero ir a tão baixo nível. Mas desejaria saber disfarçar o meu verdadeiro eu. Não gosto de me sentir exposto. Como sou transparente, parece que é como se eu estivesse pelado no meio da multidão. Nada fora da vista de todos. É terrível.
  Vivo a me perguntar o porquê de eu agir dessa maneira. Seria medo de parecer falso? Não sei. Terei de fazer uma catarse para descobrir. Mas, não agora. Quem sabe eu não faça um curso de teatro? Talvez sendo ator saiba viver melhor esse papel tão complicado que é ser eu mesmo.


De Alexandre Valério Ferreira



Comentários

Veja também