A Cidade de Pedra


Jericoacoara.
Nota: Todas as fotos pertencem ao autor, Alexandre Valério Ferreira.

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OUVIA muito falar de Jericoacoara. Nos jornais, era comum informarem que ela fora escolhida entre as mais belas praias do mundo. Seria verdade? Não estariam exagerando? Afinal, era apenas uma pedra furada. Era o momento de descobrir. Fui lá para ver.
   Saio de Jijoca de Jericoacoara, a sede do município, e sigo em direção à praia de Jericoacoara. Entre dunas, lagoas e buracos, chegamos no nosso objetivo. O dia parecia que não ia ajudar muito, pois começou a chover... Felizmente, parou depois de alguns minutos. Na verdade, foi bom, pois a combinação de chuva, praia, sol e Jeri foi singular. Nunca vi foto daquela praia durante uma tempestade.
   Assim que descemos do 4x4, enxergamos uma enorme formação rochosa nascendo das águas do mar. Seria já a bendita pedra? Não, não era. Eu me surpreendi com o cenário. Imaginava que a Pedra Furada era um objeto singular na imensidão das areias. Definitivamente, eu estava enganado. Ela era um detalhe num universo paralelo.


Rochas que parecem barbatanas de um dinossauro.

  Prosseguimos a caminhada de quase 30 minutos até a famigerada Pedra Furada. Diversas formações rochosas encantam meus olhos. Alguns parecem afundar na imensidão do mar. Outras, simulam formas estranhas, como se fossem monstros petrificados. Eu me detive a muitos detalhes, mas foi impossível retratar a todos. Alguns estão expostos aqui.

Esta rocha parece que caiu do céu.

Não pude deixar de ficar encantado com aquela praia tão peculiar. Rochas, areia, conchas, morros pedregosos, muitos segredos. Era um lugar perfeitamente belo. Surreal. Eu me senti como em uma cidade perdida. Aqueles prédios, esquecidos pelos tempos, estavam sendo lentamente apagados, reescritos pelas águas, o sol e o vento. 

Seriam estas as patas fossilizadas do Godzilla?

   Eles eram testemunhas de tempos passadas. Em suas memórias, estavam guardados milhões de anos de história da Terra e, quem sabe, da humanidade também. No decorrer das eras, aqueles seres geológicos foram sendo erodidas pelo mar, perdendo suas formas e criando novas. O vento também participava da obra, esculpindo sob o calor do sol. 
   Algumas rochas ficaram pontiagudas, enquanto outras se tornaram mais arrendondadas. Cada uma tinha sua personalidade, sua história de vida. Tentavam sobreviver ao Alzheimer, apesar da insistente pressão do tempo, do Universo e da entropia. Queriam destruir suas lembranças, pulverizando-as em uma infinidade de grãos de areia.


Pedra Furada.

  Ao chegar na Pedra Furada, compreendi melhor sua beleza. Ela era uma formação rochosa que nos fazia compreender as outras. O mar a perfurara de maneira especial. Não conseguira parti-la ao meio ainda. Criara um buraco em seu coração, mas não foi um golpe fatal. Ainda estava de pé. Não se dividira.
  Ao invés de sucumbir ao poder das águas, a Pedra se tornara em uma das mais famosas molduras do pôr-do-sol do mundo. Vivia no mar e na terra. Era de todos. Não naufragara e nem se resumira a grãos. Mesmo com diversos buracos e pequenas grutas, ela alegrava aos olhos de quem a visitava. Motivava aos que entendiam sua força. Inspirava-os a conhecê-la, mesmo com todos os desafios da sua localização.

A praia rochosa.

   Aquela faixa litorânea do Ceará merecia sua fama. Saí dali com vontade de retornar o mais brevemente possível. Não apenas para fotografar, mas também para compreendê-la melhor, senti-la, vivenciá-la. Para tamanha compreensão, se requer tempo. Tudo que vale a pena tem esse preço.


De Alexandre Valério Ferreira



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