Janelas Abandonadas

Foto: http://www.downloadswallpapers.com/papel-de-parede/casa-abandonada-preto-e-branco-17666.htm
  A tinta estava descascando. Quase todas as telhas haviam caído. Dentro dela, a chuva desenhava listras e os musgos faziam morada, uma espécie de gramado vertical. A pouca madeira que restara estava quase completamente decomposta. As portas estavam sem portas e janelas sem janelas. Não havia mais vida, ou melhor, existia, mas não eram humanas. Era uma casa abandonada.
  Para alguns, era um cenário deprimente, decadente e desagradável. Eu não vejo dessa forma. Na verdade, eu penso que seja deprimente, decadente e desagradável. Não só isso, considero super interessante. A principal razão de eu pensar assim é porque sou curioso. 
  Não lhe vem a mente sobre as razões do abandono? Por quê alguém esqueceria uma casa? Por quê eles foram embora? Por quê ninguém voltou mais? Quando aconteceu? Onde estão agora? Será que alguém ainda se lembra dela?
  Essas são algumas das perguntas que eu me faço. E nelas passo horas imaginando situações e teorias sobre como a casa chegou àquele estado. Afinal, uma casa é um lar. É onde nos criamos e nos desenvolvemos. Ter onde morar é o sonho de muitos. Porém, como se vê neste exemplo, não é em toda casa que existe um lar. 
  De repente, suponho, a família entrou em falência. Afinal, mais vale uma família inteira na rua do que um banco sem lucro. Mas, pode ser pior que isso. Talvez a família tenha naufragado em desgostos e intrigas. Não resistiu ao dos mais difíceis testes: a convivência.
  De uma forma ou de outra, aquela casa abandonada é um museu. Uma prova de que uma ou várias famílias em algum momento viveram ali. Daí, penso nas paredes. Quantas coisas elas testemunharam? Se pudessem falar, o que diriam? 
  Não vejo uma construção abandonada como algo tão deprimente. Gosto de ver o trabalho do tempo nela. Ele vai deixando marcas por meio de plantas, de animais e do clima. E é quando falo sobre ele que percebo que em alguém, em algum lugar, essa casa deve ter deixado alguma marca. Será que o tempo já a apagou também?


Alexandre Valério Ferreira





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