Vista Grossa
De Alexandre Valério Ferreira
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Precisei fazer vista grossa. A dor de enxergar o que não devia ser visto era grande demais para suportar. A solução era dissolver, despedaçar em muitos pedacinhos, a realidade a qual eu renegava.
Então olhei sem ver. Vi e fingi que não vi. Convenci-me que não era responsável pelo que eu observava. Aquilo não era da minha conta. Não fazia diferença entre ver ou não, portanto, a mim cabia decidir saber que sabia ou não. Decidi saber que nada sabia. Era a melhor saída.
Fazer vista grossa é ver e não ver. É consciente, em alguns casos. Em outros, não exatamente. Talvez seja uma forma de fugir de uma dor maior que é aceitar a realidade tal qual como ela é. A algo mais difícil e complicado do que isso?
Desejava ser pente fino. Ser aqueles com tolerância zero. Sem misericórdia. Ou, quem sabe, aquela pessoa firme em suas causas, em seus ideais e sonhos. Mas, não era o meu tipo.
Tipo... O que é tipo, afinal? Talvez me pergunte. Também não sei dizer. Mas, considero uma boa resposta, uma boa desculpa. Melhor do que fazer uma catarse e descobri a origem de meu jeito e do meu ser. Olhar para dentro é sempre mais difícil.
Não gosto do difícil. Prefiro o mais fácil. Melhor fugir. Vou fazer vista grossa. Renegarei minha responsabilidade. Fingirei para mim mesmo que ela não existe. Minha mente fingirá que foi enganada pelo meu fingimento. E assim viverei fingindo para mim mesmo que eu vivo a minha vida.
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