Descendo Pra Baixo

Escadaria. Foto: autor.


De Alexandre Valério Ferreira


Estou sofrendo pleonasmo vicioso. Preciso constantemente de pensamentos que se repetem de novo. Ideias já ditas que são faladas novamente de novo, pois quanto mais, mais melhor de bom. Alguém me ajude, por favor.
  As palavras saem para fora sem nenhuma vergonha. Tento colocar para dentro pensamentos racionais, porém, não alcanço o resultado final que tanto almejo. Parece que estou cego dos olhos e por isso não consigo enxergar nada.
  É uma dor que me machuca. Difícil é conviver junto com esse vicio destrutivo. Tentei fazer uma autoanálise de mim mesmo a fim de encontrar outra alternativa, mas sem avanço para frente, só para os lados.
  Ao invés de estar subindo para cima, só desço para baixo. Que vida infeliz. Sei que muitos dirão que devo encarar de frente o problema ou que o elo de ligação é o que me prende ao pleonasmo viciante. Alguns não entendem que o que falo é um fato real, verídico e que existe de verdade.
  Acredita em mim? Não acha que estou mentindo não? Há uma multidão de pessoas me julgando, eu sei. O panorama geral do mundo é esse: crítica. Há muitos anos atrás, o mundo de pessoas era melhor. Agora, não mais.
  Mais melhor seria se entendessem minha agonia. Não pensem que sou um demente mental da cabeça. Mas, minhas palavras teem vida própria e sofrem de uma grave carência de repetições. Necessito loucamente acentuar meus pensamentos. Será que acho que eles são fracos? Talvez.
  Preciso de um psicanalista que faça uma psicanálise em mim. Preciso fazer uma catarse do meu passado. Não vou mais adiar para depois. É preciso andar com os pés. Ainda que eu sofra 24 horas por dia, força é essencial para minha vitória.
  Mas o pior é que minhas palavras gostam de fazer-me terríveis surpresas de repente. É incrível. Elas devem ter algum transtorno psíquico. Não sei mais o que fazer com elas. Ainda bem que ganhei de graça uma consulta no psiquiatra. Talvez ele possa me ajudar (ou não).
  Tem horas que dá vontade de gritar alto. Tenho certeza absoluta que posso ficar bom, mas não sei, sabe? Eu bato palma com as mãos para quem já venceu isso. Parece uma hemorragia de sangue que resseca minha essência.
  Ando perdido por ai, de chapeu na cabeça, procurando um rumo para chegar. Sei que talvez seja unanimidade de todos que estou maluco da cabeça. Mas, um fato verídico é que sou racional. Tenho certeza disso. Você, não me julgue!
  Esse problema me impede de viver a vida. Não assisti nem mesmo a estreia da primeira vez de uma peça teatral belíssima. Sim, é verdade verdadeira. Sou amante da arte e da ciência. Acredite em mim.
  Eu olho com os olhos para mim mesmo no espelho refletindo minha face. Tento me encontrar dentro de mim. Preciso me tratar do pleonasmo vicioso, se não morrerei e perderei a vida. Ajudem-me!


 
 



 

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