O Medo da Solidão

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De Alexandre Valério Ferreira

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  O medo é uma criatura engraçada. Ele é um excelente ator, daqueles que merecem um Oscar. Sabe disfarçar muito bem os reais sentimentos e intenções que possui. Possui diversas máscaras e uma capacidade incrível de camuflar a verdade.

   Como bom ator que é, o medo escondeu de mim a verdadeira razão pela qual eu tinha medo da solidão. Este que era para mim o pior dos riscos, a mais agonizante das dores, nascera e se criara disfarçada, camuflada, com outras formas, ludibriando o meu consciente. E me levou ao medo de um medo que não deveria me dar tanto medo.

  Por que tenho medo da solidão? O que é esse medo? Incapacidade de estar sem os outros? Mas por que não posso ficar sem o convívio de outrem por algum tempo? Morreria sem eles? Será que escondo de mim uma dor maior e mais profunda?

  O medo da solidão é um bom disfarce. Esconde de nós o medo do encontro. Encontro? Com quem? Comigo mesmo. O estar só me leva a olhar para mim mesmo e conversar unicamente com o meu eu. Isso é assustador. 

  Quantas coisas não escondo no meu inconsciente? Quantas dores enterrei ou pelo menos fingi que sumiram? Quantos problemas mal resolvidos? Quantas mágoas guardadas? Quantas decepções? Estava tudo na escuridão do meu inconsciente.

  Sim, meu eu sentia melhor pensar que tinha medo de estar sem os outros a admitir que no fundo sentia medo de encontrar comigo mesmo. Precisava gastar meu tempo olhando para os outros, a fim de não ter tempo para enxergar meu interior. Neste caso, as companhias, em alguns momentos, eram rotas de fuga, meios de escapar de mim mesmo.

  O problema não é o convívio humano, claro. Mas, será que preciso estar o tempo inteiro em contato com outros, quer direta ou indiretamente? Por que faço isso? Motivo existe. Morrerei se não tiver conversando com alguém? Em geral, não. Então, por que o medo? Pois é....

  Se estou com tédio de mim mesmo, algo precisa ser resolvido. Se estou com alguma dor por isso, algo precisa ser analisado. Mas, não é o fim do mundo. Na verdade, quanto mais nos conhecemos, mais entendemos os outros a nossa volta. Vale a pena ter autoconsciência.