O Caminho do Bem


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Havia um debate na sala. Criticava-se a atitude das pessoas. Reclamava-se que muitas eram passivas, egoístas e cegas para a realidade. Incapazes de entender o mundo, apenas seguiam a multidão. As pessoas causam diversos problemas ao não se aperceberem dos seus papeis como modificadores.
   Havia, porém, um erro naqueles comentários. E isso foi ressaltado na aula. Quem são as pessoas? Quem são os outros? Falamos tanto deles e não soubemos definir bem quem eram. Onde eles vivem? Em todos os lugares, responderam. Como são? Como todos nós: humanos, trabalhadores, estudantes, medicas, pais e mães.
  Julgávamos os outros como pecinhas de uma massa uniforme, homogênea, de cor única e de opinião pré-formada. Achávamos que, assim como dizia a teoria hipodérmica, a massa aceita passivamente tudo que a mídia transmitia. Eram baldes vazios que receptavam as mensagens e a acumulavam.
   Não resolvemos o problema sobre quem são as pessoas. O professor então destacou um aspecto importante e, talvez esquecidos pela maioria: não éramos observadores isolados, privilegiados, de outra dimensão. Éramos também essas ditas pessoas. Vivemos com elas, as influenciamos e elas a nós, quer percebamos, quer não.
   Era uma ignorância e arrogância acreditarmos que éramos melhor do que eles e os encaixarmos em uma única definição. Quando se observa a formação das pessoas, percebe-se alguns padrões, é claro. Também não somos totalmente diferentes. Mas, em cada um encontramos uma soma única de histórias, fatores, emoções, conhecimentos e traumas.
   Como então ousaríamos dizer que todos são iguais? Que são apenas massa de manobra. Não que muitas vezes acabem se tornando. De fato, isso acontece com certa frequência e muitos políticos se aproveitam disso. O próprio sistema em que vivemos se aproveita dessa situação.
   Mas, deveríamos nos lembrar que cada pessoa tem uma história. Cada um tem um sonho, uma lembrança, uma decepção. Somos todos racionais, por mais que alguns não pareçam ou não aceitem ser. Mas, é perigoso generalizar as coisas. Nunca deveríamos generalizar. É um pecado.
   A turma então se calou. Envergonhados, reconhecemos que estávamos repetindo um discurso passado para nós durante a vida toda. Aquela velha ladainha dos preconceitos, estereótipos e falsas idiossincrasias que tanto vemos serem repassadas e treinadas. É essencial sermos modestos e procurarmos o bem por sermos bons e não por nos contrastarmos pelos que são maus e não fazem o bem.


Alexandre Valério Ferreira


 

 

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