Diário de uma Frenagem


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ESCRITAS no asfalto estavam diversas histórias. Muitas das quais trágicas. Acidentes. Batidas. Desvios. Frenagens abruptas. As marcas escuras no chão eram cicatrizes de vidas que por lá passaram, mas que, em alguns casos, por lá também ficaram.
  As linhas escuras não são apenas sinais de frenagens. Elas são pedaços de pneu que relatam momentos. Algumas nos dão certeza do resultado, como aquelas que vão em direção ao um poste ou a uma ponte. Outras, nos deixam cheio de dúvidas sobre o rumo que o veículo tomou: se virou ou se equilibrou. 
   Aqueles rabiscos foram feitos por alguém. Teria passageiros? Acompanhantes? Estaria com a família? Teria feito uma ultrapassagem perigosa ou tentado se desviar de uma? Será que foi um problema na direção? Estaria o motorista bêbado? Se sim, por que se expôs aquele risco? Sua família dependia economicamente dele? Estaria sem gosto pela vida? Estaria entorpecido? Estaria bêbado? Se sim, por quê? 
     O que levou o motorista a apertar de forma tão repentina o freio? Se assustara com algo? Tentara se desviar de algum animal? De alguma pessoa, então? Será que conseguiu? Ou não? Teve sequelas? Estaria hospitalizado ainda? Como a família e amigos reagiriam a uma notícia desse tipo? Alguém os consolariam? Desejariam apoio e conforto? Quem estaria sinceramente disposto?
  Se era uma família? Escapou viva? Estão todos bem? De onde eram e para onde iam? Por que estavam àquela velocidade naquele horário? O motorista seria culpado? Seria inocente? Faria diferença agora? 
  Tantas questões sem resposta. Por isso que digo que cada marca é uma infinidade de histórias possíveis. Vai desde um motorista desatento até um caminhoneiro exausto. De um inocente que sofreu com um problema no carro a um inconsequente que bebeu antes de dirigir. Mas, quem sabe o que realmente aconteceu? Só a estrada sobre a qual a história ficou escrita em um idioma desconhecido por nós.


De Alexandre Valério Ferreira




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