O Cachorro Vigilante


De Alexandre Valério Ferreira

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Não sei o que ele esperava. Mas, era evidente que estava ali por algum motivo. De olhar fixo para o leste, seguia aquele cachorro na "parada" de ônibus numa daquelas rodovias empoeiradas de dunas na curta costa litorânea do Piauí.
   2011. Esperávamos o transporte para retornar à Parnaíba. Próximo de uma barraca quase desmoronada, esse cachorro estava. Não reagiu à nossa chegada. Não latiu. Não pediu comida. Não balançou o rabo. Não esboçou nenhuma reação sequer. Era como se não estivéssemos ali, de fato.
   Mais estranho ainda é que não havia muitas casas por ali perto. De onde ele veio? Quem o criava? E, mais curioso ainda, por que estava olhando para o horizonte? Estava olhando para o quê? Esperava algo? Alguém?
  Muitas perguntas. Nenhuma resposta. Durante os minutos (quase horas) nas quais esperamos nosso ônibus, o cachorrinho de pelugem branca nada fez além de vigiar a rodovia. Não virava a cabeça. Não se deitava. Estava apenas sentado, com aquele olhar penetrante, reflexivo, pensativo.
  Seria ele uma "versão brasileira" de Hachi, aquele cachorro que esperou durante 10 anos por seu dono no Japão? Será que imaginava que seu dono realmente retornaria? Teria sido ele abandonado ali? Haveria alguém capaz dessa injustiça? Ou seria um pobre coitado que perdeu-se de seu animal querido?
   O tempo passou. O ônibus chegou. Eu e meus amigos pegamos o transporte. Partimos. O cachorro ficou. Esperava algo. Sua vida tinha outros planos. Claro que nunca mais o vi e nem soube nada dele. Só me resta tentar imaginar o rumo que ele tomou. 
  De qualquer forma, aquele pequeno animal marcou-me. Poderia ser apenas mais um entre tantos cães perdidos e famintos por aí. São muitos, não acha? Ele era algo além disso. Ele, para mim, foi um olhar esperançoso, persistente, incansável, corajoso naquele vazio de areias, carros e coqueiros.




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