A Ponta do Iceberg

Iceberg. Foto: http://www.jesuiscultive.com/IMG/jpg/iceberg_Clevenger.jpg

De Alexandre Valério Ferreira


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   Ele possui até 75 metros de altura. Porém, menos de 10% dele fica a nossa vista sobre o horizonte das águas. O seu lastro esconde-se nas profundezas do azul profundo. Vagueiam pelos mares, perdidos. São um enorme perigo para navios. RMS Titanic que o diga!
  Vivemos nos trópicos. Ainda assim, estamos rodeados de icebergs. Eles habitam das terras mais áridas aos pólos gelados da Terra. Esses objetos flutuantes em meio à realidade são denominados de pessoas. E, fazemos parte deles, evidentemente.
  Cada um de nós é um iceberg. Para os de fora, o que eles veem é apenas a superfície daquilo que realmente somos. O meu "eu" é muito além do que os olhos podem enxergar. Está nas profundezas de meu passado. Escondidos no meu inconsciente. Vagando entre o meu querer, o meu poder e o meu saber. Exibe-se timidamente na minha consciência, através da forma com que eu me enxergo.
  Os de fora veem menos do que isso. Só enxergam o que são capazes de ver de seus próprios icebergs. Cada um tem um lastro, um pedaço enorme escondido debaixo dos oceanos da vida. Suas histórias, traumas, sonhos, dramas, alegrias, sonhos. Não sabemos como são. Não é possível dimensioná-los. Impossível é de julgá-los corretamente.
  Somos um somatório. Somos o passado, o futuro, os nossos pais, os nossos amigos, os nossos desejos, as nossas escolhas, os nossos medos. Mas, eles não são vistos pelos de fora. Alguns, por ignorância ou na ignorância, negam essa realidade e acabam por se machucar diversas vezes, naufragando em inimizades, intrigas, intolerâncias, orgulho e dor.
  Como então, não me ferir com os icebergs que flutuam ao meu redor? Como não me destruir e afundar os outros? É preciso, entre outras coisas, reconhecer a si mesmo. Entender o que a gente é. Compreender que todos nós somos mais do que pensamos. As nossas ideais e sonhos são mais do que nossos. Pertencem ao outros também. Se reconhecer é uma forma de reconhecer os outros.
  Não precisamos afundar na ignorância de julgamentos falhos. Nem conseguimos nos entender plenamente, quanto mais os outros! Não sejamos tão categóricos e autoconfiantes, como os pilotos do Titanic. Não subestime a si e nem aos outros. Não naufrague nesse raciocínio falho.
  Quando nos compreendemos e aos outros também, a gente se sente melhor. Percebemos que as ações dos outros são, na verdade, o fim de um longo processo. O produto de uma série de etapas, muitas das quais pouco ou nada sabemos. Como, então, simplesmente condenar ou rejeitar esses icebergs? Temos medo do desconhecido. Porém, em muitos casos, não precisamos entender ele, apenas aceitá-los. 
  Mudemos a rota de nossas atitudes. Respeitemos a profundidade de cada ser. Aceite que você também é complexo e difícil de ser aceito de vez em quando também. Somos todos simples e complicados ao mesmo tempo. Veja o perigo e lide com ele.

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