A última bola

Foto: autor.
   Deixei a bola à deriva na piscina. Não havia razão para buscá-la. Não tinha para onde fugir. Tudo acabou mal. Era para ser um dia agradável, como poucos. Um oásis de diversão em meio a semanas e semanas de trabalho duro. Tudo poderia ser mais simples. Mas, não foi assim que as coisas aconteceram. Nada é simples. Não sei quem foi que mentiu para mim dizendo que a vida era simples...
   Foi mais uma daquelas sérias discussões banais. Elas são as piores... Começam por um motivo implícito entre as palavras, oculto entre os gestos, mas duro no coração como uma pedra. É resultado de sentimentos inconscientes. Mas, por mais enterrado que estejam, provocam situações de difícil solução.
  E assim se deu. Nem sei porque discutimos. Nem acho que foi uma discussão. Foi mais... sei lá... Não sei. Ou sei? Não importa. O que importa é que cada um foi para um canto. Havia piscina, sol e tranquilidade. Não faltava onde ficar, só faltava meios para desviar o olhar.
  Chegou a hora do almoço. Tínhamos que nos reunir. Era uma reunião de amigos e parentes. Porém, nem todos enxergavam o desentendimento. Nem os ofendidos conseguiam explicar.
  Mas, você sabe como é? Aquele maldito orgulho. Aquela sensação de mal estar preso na garganta. Algo que não se pode ser explicado, apenas sentido. É uma doença, é uma praga venenosa, que nos enlaça, nos prende a língua.
  Pensamos em dizer qualquer outra coisa menos um "desculpa" ou "deixa isso para lá, eu gosto de você" ou "ainda somos amigos". Que situação chata... E me sinto ainda pior ao ver que isso atinge até quem não tem nada a ver. 
  Como pode doer tanto fazer o que é certo? Por que é tão complicado dizer uma palavra tão simples? E justamente para as pessoas a quem somos apegados? Quer saber, vou deixar esse tal de orgulho para lá. É uma das coisas mais inúteis que existem! 
  Vou afogá-lo por ali. Afinal, que mal tem em me desculpar? Todos erramos. Não vamos perder quem é importante simplesmente por uma raiva infantil, motivada apenas pelo orgulho e egoísmo. Não, não serei assim. Desculpa...


Alexandre Valério Ferreira




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