Janela Repetida



  Havia uma janela. Havia um quarto. Haviam pessoas. Haviam dias. E, em todos os dias, havia o sol. Mas, nunca havia chance de vê-lo nascer, muito menos se pôr. Afinal, o prédio era rodeado de prédios, que estavam rodeados de outros prédios. Só se sabia que começara o dia porque o sol nascia no celular, indicando que era hora de acordar.
  Ele se arrumava para o trabalho. Olhava para o espelho. Olhava para a janela. Mas, era sempre o mesmo cenário, o mesmo horizonte cinza. Assim, não fazia diferença olhar ou deixar de olhar por aquela janela. Era tudo igual. Engraçado como era parecida com a vida dele: igual. Sempre a mesma piada, o mesmo trajeto, os mesmos amigos, os mesmos estresses, os mesmos problemas. 
  Um dia, porém, parecia diferente. Porque parecia diferente? Porque não era igual. E, porque não era igual? Porque, por alguma razão estranha, ele decidiu cultivar um pequeno jardim na janela. Era para sua esposa. Ele nunca deu um buquê de flores para ela (tirando aquele do dia do casamento). Queria fazer algo diferente. Assim, na janela de todos os dias, ele plantou algumas algumas sementes.
  De fato, começaram a nascer algumas plantas. Mas, por alguma razão, elas não se desenvolviam, não cresciam. Ele ficou muito irritado. Afinal, ele era ótimo com computadores, porque não se dava bem com flores?! Só sei que continuava assim e nada progredia lá. Sendo que todo dia ele tinha que ir até àquela janela. Assim, ele começou a olhar melhor além da janela. 
  Notou crianças brincando no pátio, notou uma senhora ajudando um pequeno passarinho machucado no chão. E, sem querer, notou como sua esposa era bela. Cômico foi ele rir de si mesmo. Era realmente engraçado. Ele nunca viu sua esposa sorrindo, alegre, de longe. Parecia que se apaixonara por ela novamente, ao ver ela conversando com os vizinhos, lá embaixo no condomínio.
  De fato, engraçado é como a rotina e falta de atitude nos tornam presos dentro de nós mesmos. Deixamos, então, de valorizar coisas belas e interessantes que não está distantes de nós. Muitas vezes o que precisamos não é de uma solução externa mirabolante, mas aprender a enxergar as coisas de outro ângulo. Basta isso.


Alexandre Valério Ferreira



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