Estrada de Cascalho


  O sol era causticante. O ar era seco e quente. Parecia não haver sombra nem mesmo debaixo daquelas árvores que rodeavam a estrada. Se bem que, de tão secas que estavam, não tinha nem como prover um local refrescante. Nessa época, chuva já não havia mais. Agora, só ano que vem. De agosto a dezembro é só calor. As plantações já estavam secando.
  Eu morava próximo a algumas linhas de alta tensão. Eles construíram estradas que davam acesso a elas. Eram pistas de cascalho, mas era espaçosa e plana. Engraçado que para tais finalidades, nunca faltavam fundos. Para mim, sempre faltava dinheiro. A lavoura sofreu com a chuva e o milho pouco cresceu. Foi uma safra perdida. E lá se estava eu indo pegar água para abastecer a casa e os animais.
  O local era a umas 3 léguas de casa. Para chegar lá, eu andava por essa estrada perdida no sertão. Já morei na cidade por muito tempo. Nunca me acostumei com o andar no asfalto. Era tão silencioso, tão morto, tão sem graça. Aquele chão preto esquentava muito, era causticante. Não gostava do local.  Quando eu ia visitar minha irmã, que morava a tempos por lá, era um ambiente estranho também. Ela tinha duas filhas. Quando a gente chegava, as moleca corriam que nem bicho do mato para os seus quartos. Parecia que tinham medo de gente, parecia matuto das brenhas! Depois, eram elas que desfaziam da gente que era do interior.
  Aqui pelo menos, sinto o chão nos pés. É a terra de verdade. Aquela que nos alimenta, aquela que dá para crescer árvores e grama. Não é aquele chão morto, quente e feio que era o tal do asfalto. Quando andava aqui, ouvia aquele barulho do cascalho. Pense num som agradável. Eu me sinto mais gente andando assim. Lá eu me sentia mais como uma máquina, um robô. Ás vezes acho que estou ficando louco. Talvez seja. Bem, estou chegando no açude. É hora de tirar a água.


Alexandre Valério Ferreira



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