Meio Psicodélico


De Alexandre Valério Ferreira



  Estava tudo meio psicodélico. Cores vibrantes. Distorções mentais. Simetrias secretas. Um caos no meio da ordem. Tudo divergindo para um sentido múltiplo. Paradoxos. Medos. Loucuras de uma mente sadia.
  Não, eu não estava fazendo uso de entorpecente. Não era preciso. Nem eu queria. A questão é que, mesmo consciente do que era real, tudo parecia agir de forma incompreensível. Nesses momentos, a gente pensa que está louco.
  Existem dias que é difícil entender o mundo. Em outros dias, não conseguimos entender nem a nós mesmos. Uma mistura de pensamentos. Todos exigindo atenção, mas nenhum gerando resultados. Muitas questões e poucas respostas.
  Talvez seja algum tipo de droga. Não a química, mas outra talvez tão destrutiva quanto. Pensamentos mal criados. Rebeldes sem causa. Uma luta contra algo que não existe. O medo do medo. A certeza das próprias incertezas.
  Parecia tudo meio psicodélico. Um caleidoscópio de pensamentos. Uma confusão mental. Tudo porque quis ouvir todos e acreditei que todos os caminhos eram bons. Tentei agradar todo mundo. Tentei fazer tudo que fazia todos felizes. Não entendia ainda que não podia ser tão covarde assim sem pagar um preço.
  Não queria decidir. Mais fácil, cômodo, era arriscar a fazer tudo o que os outros queriam e pensava a tomar decisões próprias. Não queria a responsabilidade. Queria o medo. Queria a fuga. Sim, essa forma de pensar pode devastar a mente tanto quanto as drogas. 
  Precisava me desintoxicar dessas ideias. Necessário era um treinamento. Remontar o quebra-cabeça dos meus neurônios. Desconstruir as sabotagens. Reconstruir os pilares da razão. Um verdadeiro trabalho psíquico. A liberdade tão almejada. Não, eu não queria ficar mais psicodélico. Melhor estar acordado do que fingir para si mesmo que não está.


 

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