O Filtro Bolha
Imagem: http://www.botequimdeideias.com.br/flogase/pense-ou-dance-o-filtro-bolha/ |
VOCÊ pesquisa no Google sobre câmera fotográfica. Procura por descontos. Visita alguns sites. Desiste. Daí, quando você loga no Facebook, tam: anúncios de câmeras fotográficas! Enquanto isso, você entra num site de notícias e lá também aparecem comerciais de câmeras fotográficas.
Agora, você está olhando a sua timeline no Facebook. Começa a perceber que a maioria dos posts são de pessoas com quem você mais interage na rede social. Também nota que, ao adicionar alguém novo, aparecem diversos posts dessa nova interação. Se você é contra um determinado governo, como o recém-eleito presidente dos EUA, perceberá também que a maioria das postagens a aparecerem em sua timeline sobre o tema é de opinião similar a sua.
Isso não é mera coincidência. O Facebook possui algoritmos que analisam o comportamento de todos os seus usuários e procura prever e direcionar o que cada um verá. Assim, ele tentará exibir para você assuntos que lhe agradem, que o façam interagir mais. Ele gera uma rede personalizada. Em outras palavras, exibirá aquilo que você já gosta.
Em parte, parece ter lógica, afinal, queremos ver o que nos agrada, certo? Não exatamente. Na verdade, precisamos também ver e ouvir o que não nos agrada. Para desenvolvermos nossa opinião, gostos e pensamentos sobre a vida, é necessário interagirmos com pessoas que tenham uma diversidade de opiniões e não meros reflexos de nós mesmos.
Infelizmente, é o que anda acontecendo com a Internet atualmente. O Google, por exemplo, utiliza esses algoritmos para prever nossos gostos. Assim, se eu pesquisar a palavra ÁFRICA pelo meu navegador, os resultados serão diferentes dos seus. Por exemplo, se você está interessado em causas humanitárias, talvez apareça mais sobre isso do que sobre questões políticas ou esportivas daquele continente.
Alguns podem dizer que isso é útil e necessário, visto que a Internet tem muito conteúdo e é dificil saber onde achar o que precisamos. Porém, essas ferramentas são uma faca de dois gumes, pois limitam as informações que absorvemos. Na verdade, o que encontramos parece ser muitas vezes um mero reflexo do que já pensamos e somos.
Isso é péssimo, pois ilude o usuário e o prende em uma bolha. Porém, ao vivenciar o mundo para além das redes sociais, ele vê que as coisas não são exatamente como imaginava, que nem todos pensam como seu grupo das redes sociais. E ai entram os conflitos e a polarização. Um enorme abismo comunicativo se abre entre os que tem opiniões diferentes sobre um tema.
É sobre isso que o autor de O EFEITO BOLHA, Eli Pariser, fala. Ele percebeu esse fenômeno alguns anos atrás e publicou o livro em 2011. Nós também percebemos. Talvez só não demos um nome antes.
Alguns tomam medidas radicais para evitar o efeito bolha, cortando vínculos com as redes sociais e até mudam de sistema operacional. Talvez, a meu ver, o melhor caminho seja compreender como esses sistemas funcionam e não se deixar ficar preso nessas bolhas. Ainda assim, existe uma séria questão sobre como essas empresas gigantescas estão usando nossas informações pessoais e para quem a estão vendendo, pois, afinal, esses dados valem ouro.
É fácil viver numa bolha. Tudo é como nós queremos que seja. Todos pensam e postam aquilo que nós cremos. Mas, no mundo real, temos que lidar com pessoas com diversas formas de pensar e, se não aceitarmos isso, viveremos eternamente como crianças que ainda pensam que o universo gira ao seu redor.
De Alexandre Valério Ferreira
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