La Usurpadora

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O relógio de parede prateado da sala alertava as 15:00 horas. A televisão, que a pouco refletia friamente as cores do sofá, começa a tomar cores.O aparelho possuía um tubo de raios catódicos que geravam as imagens na tela. 
   Sua antena não sintonizava muito bem e, por isso, fazia-se a instalação de lãs de aço nas extremidades do objeto metálico, a fim de aumentar a área de captação de ondas eletromagnéticas transmitidas pelo SBT. Nelas, viriam em torno de 15 minutos a vinheta da novela "A Usurpadora".
   Não, não é um lançamento midiático. Pelo contrário, foi criada em 1998 no México e está sendo exibida pela sétima vez no canal do Silvio Santos. Ainda assim, tem garantido uma boa audiência, justificando o fato de ter ganhando espaço dois anos seguidos: em 2015 e neste ano.
   O sofá, de coloração esverdeada, não sustentava nenhuma pessoa. Ainda assim, a TV estava ligada em alto e bom som. Ninguém parava a fim de assistir a novela de fato. Na verdade, como uma trilha sonora de filme, A Usurpadora servia de distração de fundo durante os afazeres domésticos.
   Não que ninguém achasse que a dita novela fosse ruim. Pelo contrário, sua história, mesmo repetida inúmeras vezes, atraia a atenção de muitos naquelas tardes mornas e monótonas. A questão é que todos já sabiam o final. Apenas esqueciam detalhes de algumas cenas. 
   Durante cerca de uma hora, o aparelho de televisão captava os movimentos encenados por Gabriele Spanic (Paola/Paulina) e suas desventuras numa bela mansão. Após isso, o dispositivo eletrônico era desligado, tanto para economizar energia como devido ao desinteresse pela programação oferecida naquele horário.
   O sol, que escaldantemente dilatava aquela tarde, agora estava a se pôr. Usurpando seu lugar com uma energia luminosa capenga, porém, muito mais bela e cativante, a lua subia e tomava sua posição no céu estrelado. Tentava ser o sol da noite. A vida é cheia de usurpadoras e, como na novela, nem sempre são más.


De Alexandre Valério Ferreira

 

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