Calor Abrasador
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De Alexandre Valério Ferreira
Eu já estava ofegante. Sofregamente, eu tentava caminhar para casa. Mas, cometi o erro de fazer isso ao meio-dia. Como fui tolo! Era quase um suicídio. Pelo menos eu havia trazido água, porém, ela já secou.
Dinheiro eu tinha. Mas, não havia um mísero comércio aberto nesta rua. Na verdade, não existia nada neste lugar! Nem árvores, nem sombra, nem vida. Olhei para todos os lados. Nenhum ser humano. Só casas e carros.
Fiquei um tanto nervoso. Continuei caminhando. Minha cabeça já doía de tanto calor. A quentura era tão grande que a brisa que vinha parecia mais com aquela do secador de cabelos! Nem os pássaros sobrevoavam aquela rua.
Cada passo que eu dava parecia ser o último. O sol insistentemente procurava me relembrar que ele estava queimando hélio por meio de fissão nuclear e que não havia para onde eu fugir. Mesmo não querendo olhar para ele e me cegar com sua radiação, ele a refletia para mim por meio do asfalto. Este, um traidor que amava absorver calor e espantar umidade do solo. Um crosta mortal.
Eu mal conseguia enxergar. Já nem sabia para onde ia direito. Estava exausto. Havia uma fúria crescente dentro de mim. Uma espécie de agonia; um desgosto; uma sede sem tamanhos. Que era isso?!
O ódio queimava em minha pele. Torrava meus neurônios. Acho que, do jeito em que eu estava, daria um soco no primeiro humano que viesse me importunar. Não queria saber de ninguém. Eu estava em ebulição. Estava sendo pulverizado pelo sol impiedoso.
As árvores que ainda resistiam naquela maldita rua sem afeto estavam mortas, assim como eu ficaria, se não achasse abrigo. Tentei beber saliva, mas esta sumira. Meus pés queimavam sobre o asfalto. O cheiro de pneu queimado atormentava minhas narinas. Era um martírio.
Alguém me ajude, por favor! Help! SOS! Ajuda!!! Água! Quanto mais eu queria sair daquela fornalha, mais cansado eu ficava e mais lentamente eu caminhava. Aqueles moradores viviam em um forno, mas pareciam ser mais frio do que gelo. Ninguém me oferecera água. Apenas olhares indiferentes me vigiavam de dentro das venezianas das janelas. Oh humanidade!
Arrancaram as árvores, concretaram o riacho dos bois, asfaltaram as ruas, aterraram os manguezais, destruíram tudo que poderia resgatá-los dessa quentura causticante! Não, eles tinham o que mereciam. Mas, e eu? Eu não merecia!
Depois de muito sofrer e murmurar, enfim cheguei ao fim daquele trecho terrível. Encontrei abrigo. Uma bodega. Tomei água em um copo de alumínio amassado. Ressurgi das cinzas. Precisava de fôlego para aguentar mais 3 quadras de pura tortura solar.
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