Paliativos

Imagem: http://www.gutodias.com/2016/09/desabado-sobre-fugir-da-realidade.html


CARLOS queria uma solução. Mas sem precisar resolver nada. Queria escapar, porém, sem de fato fugir. Precisava de algo que o fizesse esquecer tudo, mesmo que no fim das contas, algum tempo depois, a memória refrescasse tudo com uma pitada de senso de culpa e de frustração. Carlos precisava de um paliativo.
   Sim, um paliativo. Uma falsa solução, uma maquiagem, um disfarce. O problema não some. Você apenas finge que ele não existe. E, mesmo sabendo que não está tentando resolvê-lo, espera que de alguma forma ele encontre sozinho a saída antes de você tornar a lidar com nele.
  Ah, no mundo de hoje são tantos os paliativos. Existem os clássicos: bebidas alcoólicas, drogas, etc. Ajudam muitos a fugir da realidade, ou melhor, sentir-se fora da realidade (pois, afinal, é impossível escapar dela). Temos também à nossa disposição diversas técnicas escapistas. As redes sociais são muito eficientes. Pode-se criar um mundo de ilusão ou, ao menos, fazer-lhe esquecer do tempo passando.
  Ouvir música é ótimo e faz bem para a saúde. Porém, algumas vezes nos tornamos dependentes daquela "viagem na maionese" que vem ao escutarmos uma melodia e esquecemos a inevitabilidade de enfrentar nossas responsabilidades. Ainda assim, não queremos desligar a trilha sonora do filme que é a nossa vida. O som alto do carro nos ajuda a ficar surdos em relação a nossos desafios da realidade.
  E do que fugimos? Das responsabilidades da vida, das frustrações, da condição atual, dos corações partidos, dos nãos e dos sins. Queremos esquecer que temos o que esquecer. Sonhamos com uma solução sem esforço. A realidade nos angustia. Infelizmente, não somos capazes, às vezes, de perceber que escapar a ela é mais angustiante ainda.
   Afinal, os paliativos são apenas remendos. Eles maquiam, escondem, o incômodo temporariamente. Claro, nem sempre isso é ruim. Para os doentes terminais, os cuidados desse tipo permitem que tenham uma morte mais humanizada na companhia dos que lhes amam.
   Mas viver de paliativos não é viver. Não tem como ser. Se você não vai pagar o pato, alguém irá. Você joga o lixo longe da sua vista e este irá para algum lugar, afetando outras pessoas. Viver de paliativos é se acovardar e esquecer de que, de repente, você poderia sim vencer os problemas.


De Alexandre Valério Ferreira




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