Amizades Envelhecidas

Imagem: http://www.miluzinha.com/a-problematica-do-envelhecimento/


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Apesar de alguns considerarem a velhice um processo natural e inevitável, ele é estranho. Parece haver em nosso organismo uma espécie de bomba-relógio. Na faixa dos 30 anos, em geral, ela inicia o sucateamento do próprio organismo. As células não se renovam mais com a mesma velocidade de antes e com a mesma qualidade. Definhamos lentamente.
   Em nossa curta vida, também observamos outros processos de envelhecimento. Um dos mais dolorosos podem ser os das amizades. Gradualmente, aqueles amigos achegados vão se distanciando. Os motivos são os mais diversos, desde problemas de saúde até ressentimentos. 
   Chega, então, um dado momento em que eles se tornam meros estranhos. Revê-los pode ser tão desagradável quanto o processo de afastamento, pois carrega um enorme peso emocional. Muitas vezes, essa carga já não pode ser mais levada pela amizade. O vínculo emocional ficou para trás, enferrujou-se no passar dos anos.
   Mas, o envelhecimento das amizades não seguem uma ordem inevitável. Nem todos os vínculos se perdem com o tempo. Existem alguns que, pelo contrário, se fortalecem de tal forma que, ao nos encontramos, nunca mais nos afastamos novamente. 
   Porque isso acontece é complicado de dizer. São muitos fatores. Às vezes, a gente se afasta por razões frívolas. Então, a medida que amadurecemos emocionalmente, a saudade supera qualquer pequeno rancor que guardávamos. Percebemos o quão eles são infantis e nos concentramos nos bons momentos.
   Preservar as amizades é similar a manter a saúde na velhice. É necessário esforço contínuo e cuidados. Falta de exercícios comprometem a saúde física agora e no futuro. A ausência do convívio também enfraquece as amizades. Em geral, ela é um sintoma da falta de apego, de interesse, ou pelo menos causa esta impressão no outro. O resultado é o rompimento dos fios que ligam os antigos amigos.
   O envelhecimento pode ser acelerado se fumarmos ou fizermos uso de outros produtos danosos ao corpo. Na medida em que forçamos situações desagradáveis ou inserimos comportamentos destrutivos em nossos convívios sociais, condenamos os vínculos ao nosso redor. A acidez desse ambiente pode rapidamente romper as amizades ou reduzi-las a relações muito fracas.
   Talvez não possamos manter ao nosso lado todos aqueles de quem prezamos. Quem sabe isso seja algo bom, às vezes? De qualquer forma, podemos fazer nossa parte. Assim, o essencial sobreviverá. E é dele que precisamos.


De Alexandre Valério Ferreira


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