Os donos do poder

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De Alexandre Valério Ferreira

  Lá estavam eles. Alguns estavam encostados na parede, deixando suas marcas de tennis (para futuras gerações, quem sabe?). Outros estavam sentados nos degraus da escada. Passei por eles. No mundo deles, eu não existia. No meu mundo, eles tinham presença marcante.
  Eram formados por rapazes e meninas de bela aparência. Playboys e patricinhas. Claro, haviam alguns que não eram tão bonitos, mas sabiam ser "puxa-saco" como ninguém. Assim, tinham carta branca para o grupinho. Eles eram populares. Eu era GEEK, NERD, CDF, etc... Você escolhe o apelido. Não importa. Tudo significa a mesma coisa: estranho e careta.
  Eu odiava eles. Sabia que era errado. Mas, tinha realmente muita raiva deles. Não sei como ela se formou. Só sei que ela existia e crescia a cada dia. Tudo que faziam me dava raiva. Eles não faziam nada comigo, ainda assim, sentia desejo de vingança.
  Porém, durante alguns dias, as coisas mudaram. Eu me tornei parte daquele seleto grupo. Como? Eles precisavam de mim para um trabalho de física. Realmente, estava bem difícil. O professor não teve pena de nós. 
  Assim, por um curto período, me tornei um "popular". Não seria, na verdade, este o termo. Mas, era quase isso. Não sei bem como explicar, mas é tipo uma sensação de poder. 
   De repente, deixei de ter vergonha de mim mesmo. Quando estava com eles, não me importava para o que o "resto" achava. Eles eram invejosos. Queriam estar com a "gente" também. Que vergonhoso!
   Sim, com o tempo, minha arrogância foi crescendo. Nós, humanos, somos criaturas muito sociáveis. E quando estamos em grupo, nos sentimos mais fortes, mais seguros. Isso às vezes não é bom, como se observa no decorrer da história.
   Tirando essas considerações científicas, percebi que meu problema com aquele grupo era outro. Eu sentia inveja deles. E o desejo de vingança é pelo fato de eles não terem me aceitado antes. Como fui tolo! Como fui ingênuo e cego!
   Agora que eu estava com eles, percebia o quanto eu não precisava deles. O quanto era sem valor toda aquela exibição. Notei que aquelas "amizades" não durariam muito tempo. Eram tão descartáveis como um copo de plástico. Claro, pois a beleza física não dura para sempre. A vida é mudança.
  Depois de terminado e apresentado o trabalho, eu fui sumariamente ejetado do grupo. Voltei a ser um NERD sem sal e desconhecido por muitos. Já não me importava mais. Eu também já não tinha raiva deles. E sei que eles não a tinham de mim. Aliás, nem lembravam de mim. Eu também não lembrava mais deles. 





Comentários

  1. O pior é que a gente nunca percebe antes...mas só depois de experimentar percebe como aquilo era sem valor...

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    1. Exatamente. Às vezes, simplesmente não queremos aceitar a verdade que já sabemos. No fundo, já sabemos que vai dar errado.

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