Diário do marinheiro

Cargueiro. Foto: autor.
Caro diário,
   Estou com muita saudade de casa. Deixei minha querida esposa e minha duas lindas filhas me esperando. Já são mais de 16 meses navegando. Realmente, observando agora o tempo que passou, a dor é ainda maior. Como o tempo voa. Nem percebo muito isso. A vida de marinheiro é diferente. O nosso tempo é diferente dos habitantes do continente, dos habitantes da terra.
  O navio não vai muito rápido. Geralmente, alcança uns 15 nós. Até conseguimos ir a 20 nós, mas foram poucas as ocasiões. As viagens são longas e demoradas. Às vezes, fico dias longe do continente. só vejo a imensidão do mar em todo o horizonte. Não temos sinal de trânsito, nem aquela barulheira da cidade, com buzinas e carros acelerando. Sim, a vida é bem mais tranquila no mar. Digo tranquila no sentido de correria urbana, porque no que se refere a trabalho, aqui não falta. 
  Mas, a nossa vida é bem diferente do povo do solo. Sim, eu me sinto diferente. Meu relógio é diferente. Na cidade, quando o carro tem algum problema, demora-se um dia ou , no máximo, uma semana para consertar ele. 
  Agora, por exemplo, quando o nosso navio sofre uma avaria de uns quatro metros na lateral, tivemos que ficar em um porto durante uns três meses. De fato, demorou um bom tempo para arranjar pessoal qualificada e disponível para este serviço. E, dependendo do local ou da situação geopolítica, a espera pode ser ainda maior.
  As tempestades não são como as do continente. Aqui elas podem ser bem mais assustadoras! Ondas imensas e fortes ventanias são comuns. O risco de encalhar ou sofre avarias é grande. Mas, assim vamos levando. Vamos "caminhando" por essa imensidão azul. De fato, alguns não percebem, mas navegar consiste no maior meio de transporte do mundo. Afinal, 70% da superfície da Terra é de água. 


Alexandre Valério Ferreira



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