Nostalgia ou Saudade?



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LEMBRAR o passado...ah! quem nunca o fez (ou faz)? Os "bons tempos que não voltam jamais", os "anos dourados", os "dias felizes", o tudo de bom que ficou para trás. Morreu no envelhecer dos anos. "O que foi" parece ser melhor do que "o que é" e "o que será" na mente de diversas pessoas. A sua percepção dos tempos idos também é assim?
   Não há nada de mal em relembrar o passado. Lembrar é viver. Até existe uma disciplina dedicada a retomar os eventos que já ocorreram: a História.  Quem não olha para o passado corre o risco de cometer os mesmos erros. 
   Reviver o passado pode se tornar doentio em alguns casos. Ele pode nos corromper, enfraquecer nossos desejos e motivações, comprimir nossas emoções e matar o nosso futuro. É preciso ter cuidado ao abrir as portas do passado. Se não soubermos o que procuramos e como o fazer, poderemos ficar presos num tempo que não existe mais.
   Tratando desse tema, comentarei sobre as diferentes emoções que são geradas por ele. Os termos mais utilizados são nostalgia e saudade. Parecem ser sinônimos. Mas, nenhuma palavra é totalmente igual à outra, muito menos no caso dessas duas. Cada uma trás uma carga única, singular. 
   Vejamos, a princípio, as definições que o Dicionário Online da Língua Portuguesa nos trás sobre esses termos.

Nostalgia
  • Tristeza causada pela saudade de sua terra ou de sua pátria; melancolia.
  • Saudade do passado, de um lugar etc.
  • Disfunções comportamentais causadas pela separação ou isolamento (físico) do país natal, pela ausência da família e pela vontade exacerbada de regressar à pátria.
  • Saudade de alguma coisa, de uma circunstância já passada ou de uma condição que (uma pessoa) deixou de possuir.
  • Condição melancólica causada pelo anseio de ter os sonhos realizados.
  • Condição daquele que é triste sem motivos explícitos.
Saudade
  • Sentimento nostálgico provocado pela distância de (algo ou alguém), pela ausência de uma pessoa, coisa e local, ou ocasionado pela vontade de reviver experiências, situações ou momentos já passados: saudade da minha professora; saudade de beber um bom vinho; saudades do Brasil.
   Conseguiu perceber a diferença? A saudade representa um sentimento no sentido mais amplo. Ela costuma estar ligada a momentos, experiências e situações. É aquela viagem para Fernando de Noronha; aquele amigo da escola; tudo que gerou um apego que resistiu ao tempo e, por isso, deseja ser revivido. Afinal, quem não gosta de reviver o que foi bom?
   Interessante destacar que a palavra saudade não existe em muitos idiomas (pelo menos não no sentido literal). A origem em português desse termo veio das referências à solidão que os colonizadores portugueses sentiam por estarem distantes de sua terra natal. Um tal saudosismo de suas origens.
   A nostalgia, por outro lado, está associado principalmente com a melancolia. Tem mais a ver com a dor da falta. Falamos muito de nostalgia com respeito a situações e momentos que não podem ser mais revividos. É diferente da saudade, pois esta pode ser resolvida por meio de uma ligação, de uma viagem ou de um reencontro. 
   Falamos de nostalgia com respeito a determinados períodos históricos. São os "anos dourados". Portanto, não podemos "matar" a nostalgia como fazemos com a saudade. A nostalgia pode nos deixar tristes e até mesmo comprometer nossas vidas. Afinal, se acharmos que tudo que podia ser bom já aconteceu e não volta mais, que motivação teremos para seguir em frente? O que restaria seria desesperança.
   É importante mencionar que "a palavra nostalgia é formada pelos termos gregos nostós (que significa regresso a casa) e álgos (que significa dor)". (significados.com.br) A lembrança machuca, pois nos remete a algo que não podemos ter, aquilo que perdemos, que não aproveitamos plenamente. Muitas vezes essas memórias são irreais, exageradas ou romantizadas, parecendo que o passado foi muito melhor que o presente.
   Seja o que for que estejamos sentindo com respeito ao passado, é importante sabermos distinguir a realidade da ficção. Não romantizemos o passado. A vida é uma montanha russa - cheia de altos e baixos - e no passado também haviam muitas dificuldades. Costumamos lembrar apenas de bons momentos, iludindo-nos. 
   Quando vier o desejo de reviver o passado, saiba lidar com esse sentimento. Não é ruim relembrar sua própria história. Mas, enxergue ela de forma racional, com os pés no chão. Não deixe sua percepção ser enganada pela melancolia. Veja os fatos do passado como importantes etapas que geraram o que você é agora. Se existe presente, é porque houve um passado. Devemos respeitá-lo. Façamos isso por aprender dele, não por nos prendermos a ele.



De Alexandre Valério Ferreira




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