Cemitério dos carros

Sucata. Foto: http://geracaosustentavel.com.br/wp-content/uploads/carro_velho1.jpg
  De tons marrom e cinza, a sucata do bairro sempre me chamou a atenção. Quase todo dia, eram 1 ou 2 carros novos. Alguns abandonados devido a idade ou devido aos seus donos. Alguns estão irreconhecíveis. Outros, conseguem preservar uma certa elegância, apesar da ferrugem. Eram amontoados deles. Jogados. Largados. Não era um lugar bonito, pelo menos não para mim.
  De repente, um menino. Não, na verdade eram dois ou três deles. Corpos pequenos, raquíticos, porém, ágeis. Não me surpreendi. Aqui é o subúrbio  As pessoas se alimentam pouco, logo, tem uma saúde comprometida. Dizem que quanto mais problemas de saúde temos, mais rápido envelhecemos. Acho que nosso corpo fica fadigado, cansado da luta.
  Pulos, pneus de um lado a outro, baladeiras, vidros quebrados. A sucata virou um parque de diversões. Só faltavam a roda gigante, a montanha russa, os carrinhos bate-bate. Aqui temos carros batidos, com os mais incríveis amassados. Alguns pareciam mais um maracujá. Mas, não faltavam sorrisos.
  Os moleques faziam a festa. Pulavam em cima dos carros. Se escondiam dentro deles. Outros se imaginavam pilotando alguma daquelas banheiras sem pneus. Talvez estivessem numa corrida acirrada em alguma auto-estrada. Não deveriam estar aqui. Mas quem era eu para atrapalhar a diversão deles? Quem nunca pilotou um carro de mentira? Quem nunca usou uma caixa de papelão ou mesmo uma bicicleta como "carro" ou "moto" potentes? 
  Eles eram pobres. Quem não tem dinheiro, dizem, não pode comprar diversão. Bem, acho que estão enganados. Os moleques do meu bairro se divertiam mais com essas carcaças enferrujadas do que muita gente que tem piscina em casa. 
  Para ser feliz, o mais importante não é quantas coisas temos. Afinal, vejam só esses carros? Eram bonitos, quando novos. E agora? Estão enferrujando. Mais dia, menos dia, vão desaparecer. E a alegria que o dono teve quando o comprou? Não tem mais. Acabou. Prefiro ter amigos. Alguns duram a vida inteira. Amigo vale mais que dinheiro.


Alexandre Valério Ferreira




Comentários

  1. Eu vejo mil possibilidades em coisas velhas...pode ser tudo...já foi tudo...ou nada. Já o novo, é apenas novo...tem sua função...mas não as mil que minha imaginação desenha!

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    Respostas
    1. É verdade! Parece que com as coisas velhas nós temos mais liberdade! Nossa criatividade resolve muitas coisas!

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    2. O velho pode ser tudo...menos o que já foi...rsrsrs
      Engraçado isso.

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