O Vendedor de Frutas

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Não sonhei em ser um fruteiro. Os planos eram outros. Eu dizia que meu desejo era ter uma vida cheia de viagens, de aventuras, de aprendizados. Na escola, eles nos diziam que apenas quem tinha formação que poderia ser alguém. Na minha família, falavam que o importante era ter uma boa renda e ponto final.
  Tentei ser "alguém". Até fiz uma faculdade. Aprendi muitas coisas, admito. Mas, não me deu emprego. Foi ai que decidi ajudar na loja de frutas do meu tio. Estou mentindo, pois não se vendia apenas frutas. Haviam verduras, legumes e ervas. Da uva à melancia, do açafrão ao tomatinho. 
  Pensei que meus sonhos haviam se acabado. Estava amaldiçoado a uma vida que tanto procurei fugir. A vida, por outro lado, é cheia de voltas. Seus caminhos são tortuosos e muitas vezes incertos. Parece que o mundo está bêbado, procurando o caminho de casa, mas com a noção de realidade bastante comprometida.
  E nessa confusão que comecei minhas viagens. Um cliente falava de sua última ida à Europa. Outro contava sobre a avó Bahia que lhe ensinara uma ótima receita. Entre uma compra e outra, entre o pagamento e o troco, conhecia mundos e mundos. Todos agora bem claros para mim.
  Queria aprender muitas coisas da vida. Meu sonho era ser um intelectual. Bem, posso não ter graduação em medicina ortomolecular, mas tem um médico que sempre me ensina muitas coisas. Soube que 1 kg de carne possui 3 vezes mais ferro que o feijão. Também descobri que o magnésio poderia me ajudar a evitar problemas cardíacos. Minhas frutas não eram apenas alimento, eram a vida e a mente de muitas pessoas, sabendo elas ou não.
  Aventura é entender as charadas do seu Carlos, o ancião da vendinha do lado. Antes, não acertava nenhuma. Agora, respondo corretamente a 30% delas. E os ladrões? Sempre tem um querendo levar uma fruta a mais, esconder algo no bolso ou tentar me confundir nos cálculos. Mas, sou esperto e tenho amigos nos corredores. Basta eu assoviar que a patrulha fecha todas as saídas. 
  Talvez essa vida não seja o sonho de ninguém. Quem sabe, nunca falem dela nos jornais? Quem se importaria com um fruteiro? Mas, cada dia consigo o sustento da minha família, pago as roupas e comidas dos meus filhos e ainda consigo dar uma pequena ajuda para meus pais. Acho que isso se chama amadurecer.


De Alexandre Valério Ferreira

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