Diário de Uma Gota no Oceano

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Sou apenas uma gota no universo. Olhando de longe, você não me distingue do resto do oceano. Sem ele, talvez eu não existisse. Mas, com ele, eu não existo, pelo menos não, como uma gota única e particular.
   Faço parte desse conjunto e, graças a minha presença e de tantas outras gotas, o mar continua a ocupar 70% da superfície da Terra. Entretanto, sem mim, ele continua a existir. Ele é formado por nós, mas sobrevive sem mim. 
   Pensando dessa maneira, vem sobre mim uma forte melancolia. Parece um vazio. É como se eu parecesse inútil, irrelevante. Ainda assim, de forma contraditória, sei que sou essencial, que meu papel é de grande importância.
   Esse paradoxo que em meu interior habita parece de difícil solução. Um beco sem saída. O fundo do poço. Não consigo sobreviver sem reconhecer que sou importante. Preciso ser essencial para o oceano. É necessário que reconheçam que sem mim não existe. 
  Ou talvez não? De repente, o problema é minha percepção sobre mim e o oceano do qual faço parte. Não sei de onde criei essa crença de que apenas quando o oceano admite minha importância é que terei real valor. As respostas parecem vir de fora para dentro. E se for o oposto? Se a porta de saída, a solução, deva vir de dentro para fora?
   Será mesmo? Aceitar minha insignificância talvez seja o caminho para compreender minha grandeza. Não a grandeza no sentido convencional - de superioridade, soberania - ou na questão de arrogância ou orgulho pretensioso. Não é isso. É reconhecer minha singularidade. Aceitá-la. Lidar com ela. 
   Na medida que me reconheço, é mais fácil entender meu papel. Também consigo lidar melhor com a dualidade dependência/independência com o oceano. Essa simbiose [des] e [con]nectada. 
   Se existe a dualidade partícula/onda, porque não acontece o mesmo com o eu/tu? Não vivemos em si apenas com a presença do outro. Somos seres autossuficientes. Mas, ao mesmo tempo, precisamos estar com os outros. 
   Agora entendo o que é ser uma gota no oceano. Sou única para mim e para os que estão ao meu redor. Para outras gotas, não existo, pois não existem ligações entre nós. Ainda assim, nessa dualidade criamos uma unidade, que é o mar. E, quão belo ele é, não acha?


 De Alexandre Valério Ferreira
 
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